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Fino Recorte

Havia uma frase catita mas que, por razões de força maior, não pôde comparecer. Faz de conta que isto é um blog de comédia.

Fino Recorte

Havia uma frase catita mas que, por razões de força maior, não pôde comparecer. Faz de conta que isto é um blog de comédia.


Roberto Gamito

16.01.19

Pessoa_chapeu.jpg

 

Acaricio com vagar as palavras com malabarismos aprendidos de véspera, desassossego a carne com pinotes de anca, da boca à cona um trajecto, tradicionalmente lúdico, evitando o catecismo do sentimentalismo barroco, que é como quem diz um gosto de ti insuflado por justificações capazes de diluir qualquer estirpe de tesão, calma, ainda tépido mas não vulcânico, a pichota pneumática escavacando prazerosamente o pesadelo, para gáudio de uma cona faminta, a qual, a espumar-se de alegria, aguardava num dialecto de gemidos o caralho qual povo sul-americano a aguardar o seu deus arcaico, bem sei, dar-te-ei até garatujares com esporra um soneto no sítio mais recôndito do cérebro e um tegumento lácteo te envolver o corpo, os despojos de dois corpos à procura do seu idioma, como manda a doutrina da língua brava, e teço versos — vá, suplico-vos, não sorvam isto de forma literal — do mais contemporâneo modernismo. Um moderno mesmo moderno. Muito haveria a discorrer sobre o que é moderno e as nossas — inumeráveis —falhas em compreendê-lo. Fernando Pessoa fê-lo exemplarmente num dos seus ensaios. Conto com a vossa boa-vontade crítica para fugir a interpretações precipitadas. Será que estamos a ficar cada vez mais burros? É uma pergunta para a qual não consigo encontrar resposta; uma vez que, infelizmente, estou a ficar cada vez mais burro.
 
Cuido de evitar um uso mais fulminante da língua no dia-a-dia, é pouco provável existirem ocasiões para comunicar ao outro: vinha-me, de uma ponta à outra do teu corpo, até ficares enfarpelada com uma samarra de esporra; daí que me tenha refreado um tudo-nada no parágrafo anterior. Contudo, a poesia é território de homens ímpares, de outras mãos, linhagens de homens indomáveis; província na qual a língua é levada às cordas. Se há pessoas que enchem o cu com idealismo importado, macacada ruminada e polida pronta a ser vendida a qualquer papalvo, um idealismo mistificado pelos holofotes do espectáculo e, vamos lá, o acto contínuo de vomitar informação que raras vezes o é, uma vez que os jornalistas se demitiram do seu trabalho e o algoz, incompetente, esqueceu-se de os avisar da sua morte. Bem sei, os tempos são outros, os quádruplos sentidos de um Sterne, e as piruetas poéticas de Walt Witman parecem envergonhar-nos, dada a nossa estatura actual. O afunilamento interpretativo iria trazer, mais dia menos dia, problemas deste quilate. Finda esta achega preambular, é tempo de principiar a crónica propriamente dita.
 
Segundo aquilo que me foi transmitido por um pássaro atento às gordas que encimam as notícias, foram retirados três versos da Ode Triunfal, poema de Álvaro de Campos, o Walt Whitman português, heterónimo de Fernando Pessoa. Se assim é, proponho, já que estamos numa de arrumações da língua, uma mudança no título. Para: Ode triunfal, caso mo permitam, já que não pretendo aporrinhar ninguém. Assim já se digere. Os três versos foram substituídos por linhas a tracejado por conterem — ai meu Deus, que a minha avó nunca veja este texto — linguagem obscena. E que tal adoptar esse procedimento para tudo o que é obsceno? A Internet transformar-se-ia num mundo encantado do tracejado. E que mundo maravilhoso seria.
 
Outros ousaram dizer, há com cada herói, que era uma linguagem explícita. Eu tomei a liberdade de viajar até ao dicionário para conversar com o vocábulo “explícito”. Até à data, significa manifesto, expresso. Motivo suficiente para passar uma tarde à batatada com jornalistas e censores. Se há coisa que a poesia não é — salvo raras excepções, como por exemplo Bukowski — é manifesta. Por regra, cada verso é dotado de uma profundidade que alberga uma fauna cuja diversidade nunca é inteiramente estudada. Em parlapié de bêbedo, em cada verso há uma carrada de bichos. Bichos esses inebriados pelo jogo de luz e de sombras. Catalogar isto como manifesto é vir com o bibe de casa para o trabalho e tentar parecer sério.
 
Ó automóveis apinhados de pândegos e de putas
Não tencionando acicatar a maralha censória, mas cumprindo o meu dever de cronista de pendor humorístico, o que está à nossa frente é uma imagem retirada do carnaval brasileiro, sendo que as putas, sendo brasileiras ou outras, há-as em todos os cantos do mundo, louvado seja Deus; não, não quero denegrir as putas brasileiras, mas também não tenciono desanimar as putas lusas que labutam tão bem ou melhor que as suas irmãs, mas que, por regra, são votadas ao esquecimento. Em suma, um automóvel a abarrotar de gente foliona que, vai-não-vai, há-de descambar numa orgia. E qual é o mal? É melhor isso que encontrarmo-nos todos num funeral.
 
E cujas filhas aos oito anos —e eu acho isto belo e amo-o!—
Masturbam homens de aspecto decente nos vãos de escada.

Vamos lá abordar estes dois marotos, antes de vos mandar ao veterinário para tratar dessa raiva. Num cenário real, um episódio concreto, isso mereceria a nossa maior vaga de indignação, nada mais humano, tal o episódio em questão. Porém, estamos em terrenos poéticos, onde, mesmo que chovam dedos em riste, a espumar de não-pode-ser-assim, a palavra não pode ser suprimida. A palavra não se verga diante de ninguém. A língua não é vassala de ninguém. A poesia é o último reduto para a língua se descobrir. Chega, apesar de taralhouco, sei que não posso dar mais trela a este assunto. Estamos a ficar todos tantãs e eu acho isto belo e amo-o!
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Roberto Gamito

08.01.19

Marcelo Rebelo de Sousa, bloco de plasticina assiduamente moldado por mãos nervosas e políticas, Presidente da República de Portugal, segundo a wikipédia, confesso, tive de ir ver, não me interesso por aí além por esses assuntos, eu é mais gastronomia alentejana, observação de passarada e estudo rigoroso de mamas saltitantes em sites credenciados. Levo muito a sério a minha formação, evito, de facto, assistir às aulas dadas em sites se estes não me garantirem oportunidades de deleite. Em que medida é que isto tem a ver com o senhor Marcelo? No mínimo, tem tudo a ver. Se tudo é política, então o visionamento de mamas saltitantes confere-me um grau equiparável a um catedrático de um cadeira de política internacional. Então, sem mais delongas, vamos a isso, antes que o tema arrefeça.

 

O empregado do mês da empresa de distribuição de beijocas ligou para o programa da senhora Cristina Ferreira, a qual confessou há dias ou semanas, segundo o confiável Correio da Manhã, que era uma mulher árdua de aturar. Comovi-me e meditei: Aturar-te-ia de bom grado, voluptuosa Cristina Ferreira, até porque suspeito que estou a caminhar para moco e isso, parecendo que não, só nos compatibiliza. Devido a burocracias, tais como o facto de não ter o contacto dela, e haver uma hipótese remota de, mesmo que houvesse um número de telefone, ela não querer nada comigo, abortei o meu magnífico plano de uma relação que seria, no mínimo, perfeita. Sou bastante inseguro, ela é que perde.

 

O que não sucede com o galã Marcelo, calejado na arte do beijinho, treinado na arte do afecto, uma anaconda especializada no abraço asfixiante, sempre solícito a distribuir calor ou aparecer, qual penetra, numa selfie, providenciando a qualquer anónimo um bom engajamento nas redes sociais. Segundo se conta, Marcelo terá querido estabelecer alguma paridade entre SIC e TVI, marcando, desse modo, embora de formas distintas, presença nos dois canais. Em linguagem de pessoa crescida, não quis que nenhuma criança ficasse sem o chupa. Preveniu o choro de uma estação televisiva que, como é sabido, é pior que uma manada de putos atrás de um chupa gigante. Essa é uma interpretação. A outra, uma mais cínica, mais adequada ao nosso século, é que o Doutor Marcelo adora ficar bem na fotografia. Seja ela literal ou simbólica. O senhor Rebelo não faz cá distinções. Desconfio que, dentro de pouco tempo, alguém lhe entregará o prémio de modelo fotográfico mais calejado, apesar de a concorrência feroz não lhe dar tréguas, nomeadamente as mulheres divorciadas, as quais tiram umas poucas centenas de fotos atrás da mesma árvore, e de pitas que confundem o twitter com uma sessão fotográfica para um catálogo infinito. Seja como for, não estando o senhor Sousa na flor da idade, tem fôlego de sobra de forma a deixar para trás a concorrência. Merece todo o meu respeito. Quando é para dizer bem, é para dizer bem. Não ganho nada em ficar com os elogios guardados no miolo.

 

Embora a situação não me provoque comichão, em virtude do uso de uma pomada preventiva chamada tenho-mais-merdas-em-que-pensar, o senhor Presidente aterrou num ninho de cobras. A justificação usada, a da paridade, pô-lo num sítio deveras pantanoso. Agora terá de mandar uma carta ao Malato, partilhar um post da página de facebook da RTP2, dar um linguado ao Pedro Boucherie, da SIC Radical, levar a cabo qualquer coisa sem visibilidade no Canal Q, convidar para um encontro literário uma actriz de um canal erótico, ser o duplo de Deus por um dia, ser o Stan Lee nos próximos filmes da Marvel, aparecer numa prank do youtuber João Sousa, abrir o espectáculo do Nilton com piadas escatológicas, limpar as lágrimas ao Filipe Vieira com uma toalha de piquenique, emprestar-me 1 milhão de euros (dispenso os afectos), elogiar a ginga da Bumba na Fofinha, ser o servente numa obra que se arrasta há anos ao pé de minha casa, aconselhar os velhotes, nas compras lá para casa, apalpando politicamente a fruta, e assim por diante, até confundirmos a sua agenda política com um meme.

 

E, em havendo tempo, talvez fazer as folgas do José Figueiras.

 

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