Para mim, qualquer conversa que não tenha em conta o bom do sexo é humoristicamente moribunda. Aliás, ao contrário daquilo que a pancada vigente professa, nem podes ser apodado intelectual se não ousares a piada boçal num encontro — um piscar de olhar satírico aos paladinos do pipi indefeso, os quais infestam sem entraves as redes sociais de frases venenosamente mansas.
A piada boçal é o barómetro ideal para medir a inteligência de um Homem, quer dizer, a mestria com que põe a braguilha em discurso. Como é que ponho o meu caralho numa prosa escorreita, eis o que devia preocupar o homem; como é que ponho a minha cona húmida no meu olhar dardejante, eis o que devia ambicionar a mulher.
Em meu entender, não nos podemos considerar interessantes, se não nos manifestarmos ruidosamente no twitter pelos direitos da piada velhaca. A conversa séria, hesitante e chata como o caralho — desculpa, amigo —, dado que ciente das esparrelas da língua, cedo se torna obsoleta e insustentável. Sem a referência à foda, surja ela escancarada ou sub-reptícia, a conversa prometedora rapidamente cede lugar à burocracia. A burocracia, como é sabido, é a arte de secar conas e murchar vergas. Peço desde já desculpas por ter perturbado algumas pessoas com tão inabalável verdade. Dito de outra forma, se não é para fazermos piadas do foro sexual, nem me perturbes, não me faças perder tempo, nem sequer me batas à porta.
No fundo, o fito da prosa marota é espicaçar o gosto por berbigão ou besugo. É falso sugerir que o autor destas linhas é um taberneiro em formação que simpatiza com os terroristas da linguagem — aqueles que fogem à doutrina da palavras polidas.
Eu, gajo sofisticado como o caralho, um indómito prosador caso se propicie, agente e relações públicas calejado do meu caralho, vejo com relutância a nova escola que prefere votar o sexo para um lugar secundário aquando do diálogo. Esse contorcionismo de perífrases, eufemismos e coisas que não lembram ao diabo, entristece-me o pau. Em suma, sou pró-foda, pró-boçalidade, pró-prosa-sem-engulhos, pró-verso-desembestado, pró-língua-sem-açaimes. Refuto com o meu tesão que me enfuna as calças quem diz que o vernáculo empobrece o discurso. Esses eunucos a abarrotar de boas intenções — ai os cumes da hipocrisia! — nem merecem ser possuidores de cona nem de caralho.
Sou apologista de uma prosa selvagem, que abre caminho ao caralho entesado, que empapa o ar de verbos marginais aptos a esbofetear o que seria suposto, finalizando com uma saraivada de esperma na cara das convenções.
Há certas alturas em que o homem não é senão o biógrafo do seu caralho: supera isso. O século tenta injectar-lhe tranquilizante como quem tenta pôr a dormir um elefante. Menciono tudo isso com um sorriso farto nos lábios, porque a sociedade que nos coube, informada como nunca, parva como sempre, está agora a tentar açaimar o pénis. Domesticar o bicho?, não enquanto eu estiver vivo. O pénis posto em discurso ri-se das vossas tentativas. De cada vez que o puritano das redes tenta eufemizar o tesão, há um caralho que desponta, uma cona que se humedece. Foda-se, e isso é belo como o caralh@.
O facto de o número crescente de detractores do besugo não cessar de aumentar revela que há muito trabalho a executar de molde a defender os direitos — com enfoque no duplo sentido — do menino do baixo ventre, esse rapazinho de estatura oscilante.
Um dia os críticos serão unânimes nos elogios a esta crónica: matem-me este cabrão.
![Caralho posto em discurso, Roberto Gamito Caralho posto em discurso, Roberto Gamito]()