Roberto Gamito
27.11.22
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27.11.22
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13.11.22
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12.11.22
Roberto Gamito
02.11.22
Seja por falta de discernimento, seja por má vontade ou, quiçá, somente falta de treino, o discurso reinante das redes sociais, outrora múltiplo e hoje saído das mesmas goelas, encrespou-se, armadilhou-se, tornando o diálogo insustentável. Diariamente, travam-se debates humoristicamente interessantes como quem sai de casa de manhã para comprar pão: cada facção na sua trincheira, cada qual aproveitando uma hesitação ou um passo em falso do opositor para lançar mais uma granada branca, símbolo da paz contemporânea. A violência assoma-se entre as sílabas: a indignação, o pão nosso de cada dia. Depois do século passado, em que o homem, ao pressentir as grandes guerras e ao passar por elas de gatas, levou o cérebro às cordas, não se vê uma figura de envergadura intelectual capaz de pulverizar as várias matilhas, a saber: lamentação, indignação, estupidificação. Isso e outras coisas fazem-nos suspeitar que a província dos génios ficou para trás, irremediavelmente para trás e teremos, doravante, de pugnar pateticamente com a prata da casa. Falta-nos um homem — já nem peço mais — daquele calibre impossível de domar, bata ele de frente com um homem, uma multidão ou o mundo. Realizando um olhar panorâmico sobre este século que nos coube, damo-nos conta que, com a excepção de meia dúzia, toda a gente está receptiva à patranha. De facto, pondo a verdade e a mentira lado a lado, a última é suspeitosamente mais tragável que a verdade. Com receio de lascar os dentes e o sorriso, o qual é o cartão de visita da hipocrisia, ninguém lhe joga os dentes. Sustento teimosamente que, se encararmos por estes dias um homem desta estirpe, a sua intransigência seja sintoma mais que suficiente para lhe diagnosticarmos a loucura. A isto, o génio deve responder não, fazendo um pacto de sangue com a noite, a morte e o silêncio. Até com o Diabo, se tiver que ser. Na mente do génio: Nem todas as lâminas do mundo me poderão calar ou, sequer, adicionar uma palavra ao meu discurso. Contudo, independentemente da dimensão da luta, o Outro terá de entrar na equação sob pena de a matemática sair coxa da ardósia. Enfrentá-lo a cada linha, não consentir que os embusteiros persistam, alegres e cheios de esperanças, na sua campanha desenfreada pelas terras outrora pertencentes à razão. Como pôr o outro na equação quando este se nega a ouvir o que quer que seja? Como lidar com quem faz orelhas moucas a tudo o que não seja o seu reflexo ou uma imagem supremamente elogiosa sobre os seus gestos e pensamentos? Continuo a não ver como se pode harmonizar tudo isto. O ciclo repete-se; já Cícero se debateu com os meus problemas. Se a palavra cura, pressuposto no qual já não aposto as fichas todas, talvez tenha perdido o efeito de outrora ou, mais triste, já não sabemos utilizar a língua plena. Mesmo aquando do milagre de partilhá-la com os outros nos moldes mais auríferos, do outro lado há um Homem obstinadamente surdo.
O primeiro passo para romper o ciclo é compreender que estamos engaiolados num refrão escravizante. Nesse sentido, perceberíamos o Tempo como um larápio que volta pela enésima vez ao lugar do crime para roubar aquilo que roubou das outras vezes. Nisso, o homem é uma vítima prestável, uma fonte inesgotável de “mais do mesmo” apreciado pelo Tempo. Ao compreendermos que estamos num ciclo, seja ele modesto, seja ele de estirpe mítica como o Mito de Sísifo, cria-se uma hipótese de distanciamento, com sorte frutífera. Este distanciamento pode ser de jaez humorístico ou, pelo contrário, acentuar a tragédia. O primeiro passo está dado. O homem só pode ser encarcerado num ciclo infinito se abdicar do voo da imaginação. Outro passo indispensável a fim de obliterar um ciclo é encontrar a paz interior. Aquele que logra encontrar a paz no meio das tormentas é capaz de tudo, até romper uma maldição divina ou demoníaca. Mas é mais fácil falar do que fazer. É preciso não dar sossego à inércia, treinarmo-nos a bater de frente com o Minotauro, fazer com que o labirinto note a nossa presença, aprender a ver a fome e a sede como um bebedouro e não o partilhar com mais nenhum Deus. Dito de outro modo, não dar sossego aos medíocres, não desperdiçar a pólvora em fantasmas, não dar mais um metro que seja aos cultores de absurdidades. Neste terreno mando eu e se ousarem entrar vão levar chumbo. Por fim, consentir que as variadas paixões nos fecundem e...relampejar sem medo que a patifaria recorra à guilhotina para nos cortar o pio. Não abrandar diante de quem quer imobilizar a língua.
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