Roberto Gamito
13.04.21
Após o aculear do olhar, suplicante e desdobrável, ressurge a mão a cavalo na fome. O mofo na década e no palhaço. Hiato entre duas peles. O filão críptico da mutação. Intacto furacão de colecção. O desastre repousa no interior da caixa.
O novo que a hecatombe torna sucata. A oficina da paciência ao abandono, o apego pelo delírio a carburar sem parança. A eficácia romba do aparato do século. Luzes, ruído, esse vestido espampanante envergado pelo nada. O verbo sai à rua de pijama, é incapaz de sair do casulo da depressão. Coito, salsugem, olhar depreciado. Uma primavera demasiado exigente para flores receosas.
Altura carcomida por papagaios, triagem da excelência viciada, língua virulenta qual rastilho. O dicionário esburacado pelas minas do puritanismo. A carnificina no léxico, idioma a abarrotar de lacunas, só silêncio e onomatopeias. A vida é uma desculpa, digo, uma gigantesca perífrase, um epitáfio palavroso do qual ninguém se recordará. Originalidade no cepo, algoz com o idioma do eco. O corso carnavalesco composto apenas por palhaços da nova escola. Falcatrua do ego insuflado. A fífia da metáfora carbonizada, apagada dos livros. Saraivada de tiros contra os símbolos. Os déspotas simpatizam com a rebelião. Avesso à ideia, o homem inspecciona o umbigo como quem mexe o café. Uma fantasia que, munida de asas, seria utopia. Os activistas que despertam como galgos aquando de um holofote aceso. Um comediante que morre com a bala condizente com o seu calibre.