Roberto Gamito
20.03.21
Sobre a arte de aconchegar o tomatal em sociedade pouco ou nada se escreveu. Da relação próxima entre o homem e as suas vergonhas transborda um formigueiro de interpretações e mal-entendidos. O conforto, confessou-me um sábio, começa com o aconchego do escroto. Sem o escroto confortável é impossível que algum debate frutifique em ideias. Por consequência, o mundo não pode avançar se não houver uma multidão de escrotos bem-disposta.
De facto, há literatura que escarnece os penduricalhos do macho, ora deformando-os de forma a sugerir que o homem é um ser patético, ora parodiando numa língua cheia de roncos e gargalhadas a imagem perfeita que o homem tem de si próprio. De tomates ao léu, qualquer narcisismo exacerbado definha.
Outros, mais bebidos e sem qualquer ligação ao rebanho, atiram-nos um palavreado tão pomposo sobre os colhões que não temos outra solução senão aplaudir prontamente para ver se o tipo se cala. Felizmente resulta quase sempre. Aplausos, aprendam, é o alpista do ego emplumado. Todavia regressemos aos tomates.
É um problema delicadíssimo: são poucas as pessoas com as quais podemos contar quando é chegado este momento de aflição que tantas vezes acomete o homem, seja ele bravo ou medricas, grande ou pequeno, impecavelmente direito ou corcunda, de língua atlética ou analfabeto, sábio ou youtuber. Não te esqueças do que vais dizer, vou só ajeitar os feijões, eis uma frase inverosímil. Pouca gente entenderia; aliás, seríamos logo apodados de labregos. Há um acordo tácito com a sociedade que obriga o homem a cuidar do seu chumaço às ocultas. Enfim, a lacuna naquela frase feita “todos os corpos são bonitos”. O autor desta frase (e provavelmente autora) — das frases mais repetidas nestes últimos anos — esqueceu-se que o homem é dono de um bicho pouco abonado de beleza, o escroto. Estou em crer que se houvesse o prémio anual para a coisa mais feia do planeta, o escroto açambarcá-lo-ia sempre.
No campo do engate, creio que estamos diante do maior anti-afrodisíaco. Desenhemos o seguinte quadro com o pincel modesto da crónica: o jantar propriamente dito já sucedeu, a conversa decorre a um ritmo entusiasmante e, admita-se, estamos prestes a alcançar os cumes do tesão. Eis que o homem comunica à mulher: sossega a crica um segundo, vou pôr os colhões confortáveis. Nada sobrevive a uma deixa tão devastadora. A cona, outrora húmida como uma cascata em formação, metamorfoseia-se num deserto.
Já muito se falou de peidos e relações amorosas e como é necessário haver uma intimidade trabalhada ao longo de meses para que a flatulência possa singrar sem abalar as fundações do casal, todavia o que é um gás cujo cheiro pode espantar revoadas de pombas perto de um homem que joga as mãos às bolas como quem faz um truque de magia.
O tesão, muitas vezes tido como invulnerável, falece fulminado pelo inesperado da situação para nunca mais ressuscitar. Podem socorrer-se de génios ou de Jesus a fim de o ressuscitar que o tesão nunca mais se há-de reerguer.
E eis-nos chegados a uma encruzilhada. O que é mais importante: o conforto do saco ou dar pasto ao tesão? És parvo?, respondem. Estão certos, porém não é a responde que andamos à procura.