Roberto Gamito
12.04.21
No alto, o amanhã faminto leopardo; o silêncio é o meu discurso.
A hesitação, o travão. A respiração aflita burlava o homem quando, sem guião que se visse, a mulher se aproximava de gatas. Mutação no bando de estorninhos, condolência abstracta. No chão, penas a pontapé, lá longe montanhas a montes. Cinético no fracasso, homem-estátua no rescaldo. Biombo galopante, número de circo sacando da manga a cartada da miragem. Corpo tranquilizado pela massagem silábica, por momentos sem pressão nem grilhão, frases disparadas no tom certo. Deixas de alterne, flores lubrificando a proximidade. O mel gerado por dois olhares que se cruzam na esquina do desejo. Linha lamentável, pensa o escriba.
Na hesitação de pôr por discurso o meu coração mora a minha vida, revelou-mo um corvo oriundo de uma fábula. Interregno onde animais viram costas à harmonia da estória infantil e retomam a velha lengalenga de predador e presa. O beijo oficioso e o adeus oficial legam à memória várias versões.
Fera de domingo aperaltada para a carnificina. Momento deflorado pelo orgasmo. Guilhotina e rosa agouram à vez. Seja como for, tresanda a morte. A escrita resvala rumo à noite, menos um parafuso na mão.
A dor maquilhada em obra. O timoneiro orquestrando um barco fantasma. Segundo me contaram, enclausurado na ala mais distante do manicómio.