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Fino Recorte

Havia uma frase catita mas que, por razões de força maior, não pôde comparecer. Faz de conta que isto é um blog de comédia.

Fino Recorte

Havia uma frase catita mas que, por razões de força maior, não pôde comparecer. Faz de conta que isto é um blog de comédia.


Roberto Gamito

28.04.21

O porco saiu de pronto da boca do capital. Em boa verdade, gordo, na cabeça, uma pena. Corpinho procurando a justiça na balança. Figura injustiçada pelo espelho. Todas as coisas evocam as alíneas da magia gorada. Para remendar os mundos ocultos que levas na ideia, ó aprendiz de demiurgo, procuras feiticeiros afamados. Pretendes que o mundo te saia das mãos.

Tudo o que sobreviveu ao incêndio é como se não houvesse sobrevivido.

O que deveras me impressiona é — pausa para uma mija — saber que não há eremitas a trocar os olhos por uma amizade com dois corvos mui ilustres, a memória e o pensamento.

Embora invisíveis de tão frágeis que são, posso garantir (mas a quem pertence a voz?) que as ideias me coroaram a cabeça. Sou um rei sem reino nem súbditos. Há dias em que somos deixados a sós com uma grande dúvida. Contemplamos o suicídio, desnovelamos os ângulos mortos, tagarelamos com precipícios e lâminas. Letras minúsculas, que não se deixam pronunciar. Fora isso, admiro quando o desentendimento resvala para o afecto.

No peito esburacado pelas hienas, o coração canta o seu epitáfio. Há patetas a acreditar ser possível mudar o curso da guerra, inundando o coração do Homem com um verbo estrangeiro. Ignoro o que pensar sobre isso. Perder-me agora seria ultrajante, alcançar-te seria provisório, ter-te, por conseguinte, uma miragem . Embora descarte a visão da vida enquanto corrida, não nego que há dias, não sei se embalado pela sorte ou pela musas, em que me ultrapasso.

É criminoso acreditar que certas deixas sobrevivam fora da estufa do amor. O que fazer às coisas que nos fugiram da mão senão plasmá-las hieroglificamente na folha? Que os necrófagos tomaram conta da mão, novidade não constituirá, porém, apesar das carambolas que nos entontecem entre a vida e a morte, é vital não perder a fome. Ignoro o que fazer com este tanto que não digo.

O espelho fez-me predador de mim mesmo. Não me perguntem até que ponto pus para trás das costas as convenções do Império de Narciso. Às vezes o olhar é uma guilhotina depois de limpa.

É fruste julgarmo-nos melhores do que ontem. Tudo é vão se descascado o verniz. Não posso deixar de sentir pena do chicote por tido o azar de encontrar costas tão derrotadas.

 

Figura injustiçada pelo Espelho

 

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