Roberto Gamito
16.04.21
Graças ao seu talento exímio para tagarelar, o insólito bípede trauteia filosofantemente as suas meias verdades, uivos, gritos, quer dizer, o animal ululante a solfejar a sua selvajaria esfarrapa o que a discrição mantinha coeso.
Por que motivo eu, num lugar de alívio, que é como quem diz, miradouro privilegiado para esvaziar a bexiga enquanto se fita o mundo com olhos de quem já viu tudo, conquanto não haja ninguém a escangalhar a contemplação com questões capazes de traumatizar o pénis, a saber: “O que é o que senhor está a fazer aqui a umas horas destas?”, não faça nada senão pôr a minha vida no oblívio?
Deveria eu, mais calado que espertalhão, monetizar cada lágrima saída deste lombo reboludo? Este senhor, interrompeu alguém que recusou sair do anonimato, um dia será reconhecido como a mais espirituosa criatura por ser, sem margem para dúvidas, quem mais facilmente providencia aos de miolo escavacado uma carrada de tiradas de génio. Passamos um tempinho a meditar nestas palavras e de seguida, às mijinhas, regressamos à vida incólumes.
O sujeito A tem-se em alta conta devido à dimensão do seu pau, o sujeito B tem-se em alta conta em virtude da cilindrada do seu carro, o sujeito C tem-se em alta conta graças à mulher que engodou, o sujeito N tem-se em alta conta devido ao trono postiço que alcançou. Os muitos nomes do nada.
Um senhor artista em Paris ou em Buenos Aires tem uma tese segundo a qual uma conversa inócua retirada do contexto é arte. Outro, diz que foder em sítios inesperados é arte. Mais recentemente, há quem diga: a primeira mulher a entrar em trabalho de parto durante um funeral será considerada arte. Enfim, filhos de Duchamp.