Roberto Gamito
08.08.21
Uma pá, uma equipa de resgate e vários braços cruzados. Minutos antes de falecer, o biólogo agarrou-se às suas mais preciosas recordações.
Tal como os humanos e os ratos, os felinos prosperam em todas as paisagens, dos lugares mais remotos e quase inexplorados (caramba, o Homem não pára quieto!), do gelo ao calor da savana, dos Himalaias às camas mais atreitas ao rebuliço.
A mentira de perna curta e a verdade de perna longa andam lado a lado.
Enfunado na sedução, o homem, feito gato pescador, está em vias de colonizar as zonas húmidas. As mãos foram mantidas longe da água, na qual o peixe se acoita, mas isso está prestes a mudar.
Um bálsamo servido em vagas, o equilíbrio das carnes escoltado pelo suor cantado, o calor migratório saltando de boca em boca como salmões em contramão. O sarau onde a poesia foi trocada pelo gemido.
O homem simulou o Paraíso o melhor que pôde. Mal fechou aos olhos, o mundo virou-lhe as costas. Estamos livres? Sabemos um pouco mais que ontem? A meu ver, estamos acorrentados como cães à árvore do conhecimento.