Roberto Gamito
25.03.21
Bando de estorninhos no funil. Sinfonia de braguilha. Na poedeira o pato e a raposa. A trégua em águas de bacalhau.
O caldo apetitoso e a intempérie, ao seu redor canibais intermitentes. Para deformar a tempestade numa outra coisa mais digerível, não há agressão física praticada sobre o corpo, o meu, o teu, o nosso, um qualquer pedaço de carne angustiada, antes ensaiadíssimas coreografias que desfiguram a dor até ao limite de forma a que o espectador não dê conta do desespero.
O crustáceo no abismo, acometido por gigantismo, passa as horas a podar corais. Foguetório do Narciso. Na calha o herói e o déspota concorrendo pela cabeça do mesmo Homem.
Corvo de patas para o ar, provavelmente morto.
Imagem perturbante, exclama o homem do turbante, que problematiza tanto o voo como a morte. Um dois três som, diz a assonância.
Porém, eu que já fui um pouco de tudo, felino, insecto, crustáceo e outros, utilizando-me em tantas formas e em tantos habitats, na nossa vida, tudo se joga a meia dúzia de passos do caixão.