Roberto Gamito
29.11.21
Encontrámo-nos aqui graças à fuga. Pernoitemos neste momento e ganhemos fôlego para o que se avizinha. Resta-nos descortinar o padrão das fugas e paragens.
Precisamos de estar mais presentes no agora — esquecer por anos o futuro, esse enorme fardo.
O cuidado a dizer as palavras certas pela ordem certa é o mesmo que dedicamos a uma ferida com risco de infectar. Em todo o caso, o processo não é isento de dor.
Não tires os olhos das aves, nunca te esqueças da possibilidade de levantar voo.
Só o pensamento permite o avanço; a velocidade a que estamos sujeitos presentemente é uma performance. Nómadas postiços, eis o que somos.
No fundo, a cabeça é uma gaiola de possibilidades. São mundos embrionários transportados de um lado por outro como minúsculas aves domésticas.
Não há aqui uma relação de forças, não é o conhecido que se ajoelha diante do ignoto nem a fórmula que questiona o informe.
Como diz uma personagem de Musil: “É tão simples ter força para agir e tão difícil encontrar um sentido para a acção”.