Roberto Gamito
19.04.21
Alberto Chanfalho, filho último do dadaísmo, escrevia como quem pinta as mais vívidas linhas do seu século. Num arraial de santa esporradela, garatujou — reparem na humildade do verbo — a sua obra-prima.
À mingua de cona, resta ao homem — melhor dizendo, bardo — pôr o seu caralho em poema — não há volta a dar. Assim mesmo, sem mais prelúdios, cuspo na cara envergonhada do meu século, não há puritanismo que me empodere a língua, cogita Chanfalho em polvorosa.
Tal como Italo Calvino, sou paladino da leveza. Por conseguinte, aplicando a regra de três simples fodas, o peso dos colhões pode interferir na clareza das linhas, conferindo-lhe um certo barroquismo, próprio de aspirante a fodilhão. Marimbo-me para as convenções, espartilhos, garrotes, borrifo-me para açaimes e gaiolas. Sou o bicho mais indómito do século, gritava Chanfalho no mato com o fito de espantar as falsas lebres.
O que é isto? Não nos precipitemos, mas sobretudo evite fazer traduções como esta: é apenas um devaneio de um espírito cambaleante. Se o poeta a convida para um café, não finja que não sabe para o que vai. Sejas tu dotada ou não de cona treinada, nunca ganharás ao fingidor-mor no jogo do fingimento. Nas primeiras fodas, quer dizer, o prelúdio da relação, surgem por vezes frases ingénuas: só me venho contigo ou isto ainda é capaz de dar uma bela história de amor. Ou, se mais expeditos no linguajar: o amanhã já cá canta. Eis o que o poeta devia gritar quando acerta num poema: o amanhã já cá canta.
Se se vier enquanto vistoria estas linhas, minha excelsa criatura fodilhona, não o mencione, isso fará de si uma imbecil, incapaz de sentir o que se acoita sob esta prosa asselvajada. E acrescento isto, embora saia da órbita do texto: caso veja um homem de joelhos, não caia na tentação de baixar as calças como quem aposta as fichas todas no minete. A fé é uma coisa muito pessoal; assim como o minete, bramará a detractora, pelo que não chegamos a nenhum consenso.
Se fornicou no elevador, há fortes possibilidades de ter ido parar a uns pisos acima do desejado. Se foi abençoada com um monumental orgasmo, ao céu, se o fingiu, o mais certo é ter ido parar à cave. Tudo isto carece de provas, porém não andamos muito longe da verdade.
Mas sobretudo não pergunte a um escritor quem chupou para chegar onde chegou. Informe-se na internet, essa informações serão, mais cedo que tarde, de domínio público. O amanhã já cá canta.