Roberto Gamito
02.03.21
Os níveis minguantes de paciência tornaram o Homem ameaçador, selvagem, indomado, imprevisível. A pandemia iluminou alguns recantos da questão: É isto de Homem?
Eufemismos revezam-se alucinadamente de molde a tranquilizar quem vê esta massa crescente a sair do leito da normalidade.
A impaciência, a qual nos últimos anos parece escassear tanto como o amor, aumenta a imprevisibilidade do comportamento humano. Imprevisíveis como animais permanentemente enraivecidos, eis a criatura saída do laboratório da pandemia.
Numa metamorfose não antevista por ninguém, o Homem, cume da criação, pelo menos no tocante aos mundos por desbravar, retrocedeu na sua caminhada, digamos, gloriosa rumo ao conhecimento último. Essa assimptota indevassável.
A liberdade de que gozávamos, aparente ou real, não cabe agora discutir, o sentimento de estar à solta sem ser vigiado por predadores nem pregadores num palco que floresce com os nossos passos à medida que o mundo nos entrega os seus segredos um por um. Esta nova fricção no caminho para a felicidade curto-circuitou o cérebro da maioria de nós. Aqui, o propósito é o de obter, como que magicamente, uma grande síntese apta a auxiliar-nos nos dias mais tenebrosos — não há, a menos que eu vos engane. Os mais ingénuos comentarão o meu parecer, engodados que estão com novas patranhas, a saber: vamos sair da pandemia melhores pessoas.
Estarei eu ciente do processo que me transforma num animal instável, capaz de explodir por tudo e por nada? Uma multidão de bombas em vias de explodir. Ninguém conhece a verdadeira magnitude actual dos danos nem os futuros. O presente é um território ingovernável, assolado por hipérboles que ora nos elevam aos píncaros, ora nos esmagam.