Roberto Gamito
20.04.21
Prosa pançuda a tresandar a taberna. São verbos escoltados por ais tomando a dianteira na tristeza. Uma grelha pobre infestada de carne putrefacta. O fado febril de um passado que não nos abandona. Reconfina-se na ideia de que tudo não passou de um sonho. O perpétuo desajustado, o eclético palhaço do circo mundano. Perante o quadro ambulante, todo carne e suspiros, a babugem de trote literário. Para onde foi a realidade palpável? O clero da época tempera os dias com os seus dogmas. Tendas onde ensaiamos um lar. O encontro marcante com o auto-retrato.
Dois corpos regateiam a paixão sem as palavras certas. Um lerdo desentendimento tépido. Douto imbecil disparatando nas pausas dos génios. A barraca sazonal onde, asseguro, a zaragata é elevada ao estatuto de acontecimento. Um azedume que fez escola. As migalhas, indiferentemente da sua natureza, sejam elas provenientes do pão ou do circo, vítimas da crítica malsã.
Um léxico pejado de puas. A soletração enquanto biografia da dor. As questões de sempre desaguam no quotidiano e são contaminadas com o seu torpor. Gemido que abandalha a razão, mão passeando-se na perna alheia. Escalada inútil, caminhante lendo o céu na diagonal. O palco corrupto privilegia uma certa casta de actores. Sucessiva afinação do tom. Inviável ensaio no império da velocidade. Gaguez intérmina, riso como soluço. Homem, protótipo de cadáver. A crença vai e vem com um pêndulo e o tempo dá corda aos sapatos.
O sandeu acoitado na sarça, bailarina minúscula saltando de nenúfar em nenúfar. Tonitruante lampejo de que a vida não passou de um engano.