Roberto Gamito
11.05.22
O samurai é encontrado morto num bosque de bambus. Colisão de duas frases. O caminho do samurai é encontrado na morte. Não há factos, apenas interpretações.
O coração fica a sós com o nome que carambola nos lábios outrora habitados pela paixão.
Caem meteoritos que nada sabem sobre os nossos desejos, povoando a noite de um circo de cicatrizes ígneas.
Noutro sítio do globo, os pirilampos transformam as termiteiras em faróis que conduzem os insectos até à morte. A luz é o maior engodo de todos os tempos. Mosquitos e homens aproximam-se graças ao ludíbrio.
Os gritos iluminam as maiúsculas da barbárie. Há sílabas que sobrevivem à tona da cidade incendiada. Dentro de nós cresce um cosmos de lâminas. Só posso falar do que me golpeou. A memória feita ácido encarregar-se-á da vingança: é uma questão de tempo até desfigurar todos os rostos.
Impacientam-se as primeiras fileiras de árvores. A tempestade ensaia a sua fúria. No palco, o homem palestra sobre a vida, ao passo que no olhar sepulta os seus segredos, cadáveres e mundos abortados.
Não te amo. Quando acordares, já terei abandonado o teu nome.