Roberto Gamito
11.03.21
Daninho e imprevisível, o nevoeiro acerca-se das minhas mãos sem recorrer a galopes ruidosos. A litania de espasmos e ais. A memória, mensageira desses episódios, ergue ou tomba a ponte levadiça que nos conduz a esses dias cheios de pó e notas de rodapé. Coração no tubo de ensaio, ilegível experiência. Temperatura que nos põe a falar a mesma língua.
Dessa lição recordo tão-somente os silêncios entre as deixas.
Já na forma de porco, refocilo nas sobras do palco à procura de um final feliz. As teias estrategicamente colocadas onde outrora havia holofotes depauperam a minha vida às moscas. Piada anómala que nos entrega de bandeja o choro, comunicam os camaleões.
A argila secou nos braços decepados. Mas que formas são essas tão alheias à língua? Canto, meu amor, canto, meu temor.
Nómada entre os cacos e bagatelas, pontapés falhos nas lagartixas, gritos enchendo o recinto de fantasmas.
Metamorfoseio-me em dilúvio à espera que a argila comece a abandonar a sua forma.
Malversado nestas hecatombes, choro onde devia rir e rio onde devia chorar. O nexo entre o presente e o futuro comido por ratos.
Numa perícia a precisar de amanho, fazia brotar das minhas mãos pombas brancas depenadas. Piada, petardo no fardo.