Roberto Gamito
29.03.21
O atoleiro da pólvora, explosão residencial. Ser humano. Pirotecnia reticente, fogachos tagarelas. O porvir a reboque da poesia. Penúria degolada em verso e de seguida alada. Medusa e Pégaso.
Mercearia onde se mercadejam venenos e antídotos num idioma de seduzir lacunas. A facção dos imunes. Ao rés do perigo, a lula metamorfoseia-se em ananás. Aos olhos menos instruídos, vampiro, na realidade, inerme. A arcana aldrabice dos abismos. Onde a luz não singra, o parasita consome os olhos do tubarão pitosga. Ligarei amanhã para vos comunicar os detalhes do pacto demoníaco. Até lá, aconselho-vos a cantarolar as gordas do Diabo. A montanha joeira corajosos e medrosos. Pela soma das bandeiras no cume podemos saber, caso saibamos a constante do destino, quantos Homens morreram desde o primeiro dia. Calma, não se apressem, a queda nunca se esgotará.
A carnificina não desmentiu o oráculo. Há cadáveres para todos os gostos, melhor dizendo, para todas as histórias. E cedo limpam à pressa a cena de matadouro. O espectáculo da morte não pode parar, comunica o anjo que faz uma perninha como algoz. Se algum dia chover guilhotinas, vou para a rua, declara o mesmo anjo. O part-time no Céu não chega para pagar as contas, o mesmo anjo ainda. Em boa verdade, o mesmo anjo não será, dado que ninguém é imune à mudança. O perigo não resulta na ida ao Inferno. O verdadeiro desafio é tentar sair de lá. Entretanto arrefecem as frases que noutras alturas nos amparavam. Cardumes de desesperados sorridentes ingressam em lojas à cata de réplicas de vidas desperdiçadas. Silêncio. Pouparam ampla verborreia na justificação. Por breves momentos atenuou-se a espessura da mentira, a fragilidade impôs-se num dialecto de frases cortadas, suspiros e soluços.