Roberto Gamito
30.11.21
A arte é um espaço onde a prudência fica de fora.
A morte recusa-se a ficar quieta e com uma pose fotogénica diante da objectiva da escrita. Quantas definições existem? As suficientes para não as conseguirmos enumerar.
Diante da pele seca cogitamos: “O que é isto senão uma pele.” De supetão, recordamos a associação de Nietzsche, o factualismo está ligado à impotência para interpretar.
A minha mente não me permite ir além de uma pele seca. Não me escorracem do literal, receio perder o pé. Não riam, não peguem assim nas minhas fragilidades.
Nesta hora em que se semeiam ideias esperando que daí nasça algum caminho os algozes auscultam-nos pacientemente. A respiração aflita é uma sentença.
A arte, apesar de gigante, carece de espaço para o acessório. Assim sendo, o verso é um animal compacto.
Sou tão literal, que estou impedido de mergulhar.
Fui tão profundo, que esqueci a superfície.
Continuo perdido, eis um exemplo de honradez intelectual.
A arte é o abandonar do molde da convenção.
Para alcançá-la é simples: eliminamos as frases que não nos fazem progredir. Não sobrará nada.
Eis-nos diante do retrato de uma folha em branco.