Roberto Gamito
12.03.21
Errata: onde está rosa-dos-ventos deve ler-se cardo-dos-ventos.
Um passe aflito para o coração do santuário, sítio onde o si mesmo pode brotar e crescer sem empecilhos. Do lado de fora deste ideal, do lado da estufa urbana, Homens crescem prematuramente sem nunca alcançar o sabor a felicidade.
Se de joelhos, comprava-lhe a ficção, lamentos e um quilograma de suspiros. Riu-se e deu-me o troco em pastilhas. Desembaraçados da etiqueta, dançámos em cima da coluna da antiga deidade decepada.
Já bem quentinho, avancei com o mapa atrás das costas, precavi-me contra feras e acepipes, memorizei as melhores citações para cada situação. Aéreas panteras apinham a noite de olhos. Possível legenda: constelação faminta.
Refastelado na prateleira, sou um produto deste século. O preço é simbólico, segundo me confessou o chouriço da estante vizinha.
A adulto emergente compete com a criança desdentada pelo título de maior chorão. A criatura supostamente crescida ganha sem surpresa. Os juízes da prova adormeceram, em contrapartida o público ganha um cheque-insónias válido para as próximas noventa noites. Nem tudo é mau, mas ninguém nos garante que o resto seja bom.
Antes uniam-nos as cumplicidades, os olhares e bagatelas de encher versos, hoje, indignações e toda uma parafernália de rancores. Reservamos o nosso verdadeiro eu para o crematório.
De mim até à minha melhor versão vai um longo caminho. Só lá chego de foguetão. Acidente, vítimas desencarceradas com abre-latas. Ambulância com a direcção partida, de seguida carro funerário.
Ó tu, voluntário da desgraça, átomo mais revoltado desta turba, que levas a metáfora ao forno para ficar mais tenra. Metáfora? Nada disso, aqui só se vende carne literal. Cardápio humanidade? Angustiantemente monótono: sopa de nabo de manhã à noite.