Roberto Gamito
26.11.20
Permitam-me que convoque para a arena da crónica uma comichão autobiográfica: o pénis. Não me refiro a micoses nem a outras irregularidades na pele que obrigam a mão a visitar a zona marota com frequência, mas sim ao aquecimento global e o que isso implica na vida atarefada do pénis, essa criatura de feitio exemplar que, tal como o cão, se entusiasma aquando da chegada da dona.
Actualmente, sei que custa ouvir isto, mas não há condições para se manter um pénis. Em virtude das amplitudes térmicas, recordem-se que o calor e o frio oscilam agressivamente durante o dia, é impossível ao homem estabelecer uma relação de confiança com a sua sarda. Vivemos num desassossego constante. Pensamos guardar um animal de estatura assinalável, porém, no momento em que vamos exibir o notável bicho à visitante, abate-se um frio rijo, o seu porte evapora e apanhamos uma vergonha. As mulheres sabem lá o que é ser homem, falta-lhes empatia. Torna-se difícil impressionar nestas condições incertas. Fala-se muito do efeito das alterações climáticas na vida humana, todavia ninguém refere o impacto das mesmas no pénis.
Há homens que se ausentam do trabalho na hora do calor para fotografar o nabo, com a permissão do patrão, a fim de o apanhar em todo o seu esplendor. Não é fácil prosperar nestes tempos incertos.
O pensamento é este: ou aproveito esta janela de tempo para aumentar o arquivo que me pode ser útil em determinadas situações que preludiam a fodanga, ou o meu pénis vai acabar sozinho, amargurado e poeta.
O facto de ser impossível prever o encarquilhamento do pénis pode levar o homem à loucura. Já para não falar das possíveis estrias no dito. Tanta mudança de tamanho não dá saúde a ninguém. Como sei que adoram música, o pénis é, por estes dias, um acordeão nas mãos das alterações climáticas.
Deixa-te de brincadeiras, dirão as mulheres. Minhas amigas, estamos aqui a discutir o futuro da humanidade. Não estaria a ludibriar ninguém se equiparasse a vida actual do pénis aos problemas mais sérios da sociedade como a miséria e as guerras.
Precisamos urgentemente de reunir os líderes do mundo para falar no pénis. Deixem a paz para a geração seguinte; sem dar uma vida digna ao pénis não há futuro para ninguém.
O que podemos fazer para te ajudar, Roberto? Primeiro que tudo, interroguem os vossos activistas. Tu tens respeito pelo pénis, senhora activista? Se ela responder “não está nas minhas prioridades”, sejam vocês os activistas que o pénis precisa, mas primeiro indignem-se, estamos a falar de uma criatura injustiçada. Vão para o twitter cancelar esses falsos activistas, uma vez que eles se recusaram a defender os direitos do pénis.
Urge retirar a vida do pénis da obscuridade e elevá-la a tema do dia. Tenham respeito pelo pénis.