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Fino Recorte

Havia uma frase catita mas que, por razões de força maior, não pôde comparecer. Faz de conta que isto é um blog de comédia.

Fino Recorte

Havia uma frase catita mas que, por razões de força maior, não pôde comparecer. Faz de conta que isto é um blog de comédia.


Roberto Gamito

02.06.23

É impossível dar um passo sem levar com a fanfarra de bullies, haters, críticos e toda uma corja cuja incumbência é vergar quem ousou destoar do refrão da normalidade. Coreógrafos da vida alheia.
 
O crescimento do artista é acompanhado não por um vagaroso crescimento logarítmico, mas por um vertiginoso crescimento exponencial.
O coro de críticas vai engrossando, mesclam-se tons angelicais e demoníacos, testam-se magias negras de todas as proviniências. Visto de cima, assistimos a uma espécie de simulacro de ritual fúnebre. Um caudal de necrófagos salivando, não pela morte do Homem, mas pela morte do artista. O Homem que tenta a pulso singularizar-se. O Outro tornado inferno pelo olhar dos demais.
Curiosamente, seguem esse Moisés destituído de verniz divino pelo deserto. Seguem-no a contragosto, porém seguem-no religiosamente.
Importa fazer a destrinça, há toda uma genealogia de necrófagos bípedes, cada um dos quais ocupando um lugar distinto na hierarquia da podridão. Há carcaças para todos os gostos, sejam eles requintados ou provincianos.
 
Grosso modo, o hater é um crítico sem estudos. Traduz a sua mágoa, a sua ira, o seu azedume colhido na vida remodelada pelo fado em rua da amargura; o seu ressentimento em urros quase humanos transforma-se num hino à inveja.
São picuinhas ululantes. Sem critério, disparam insultos como um bêbado em transe. No minuto seguinte, são capazes de elogiar outra pessoa (alguém que, no entender deles, não lhes faz sombra) pela mesma razão que denegriram a pontapés verbais outra pessoa. Não se espera grande inteligência do hater. É filho da cólera, precisa de dar palco à sua ira. Minutos de voo ao seu abutre de estimação.
 
O mais cínico dos observadores poderia ressalvar, não sem soltar uma risada de quem possui os trunfos na mão que, presentemente, a distância entre o hater e o crítico é quase académica, posto que a maioria de nós consome aparvalhadamente aquilo que lhe salta à frente dos olhos e raramente é capaz de o digerir. Amiúde é uma abordagem que peca por escassa.
Se o artista se vergar, a corja de abutres, a qual apostou na sua derrota, ganhará.
Nos momentos de fraqueza, a cabeça do artista é uma arena fervilhante disputada por vozes que surripiam a determinação, quiçá confiança, e substituem-nas por medo; de seguida, principiam a contaminar a coreografia com passos receosos.
 
Na nossa cabeça inicia-se uma peça, Édipo. As vozes engrossam em número e em tom. Em suma, o nosso Laio.
As vozes interiores que nos agrilhoam são esse Laio mastodôntico, esse cadáver esquisito, surreal porque cheio de vida.
A batalha que realmente interessa trava-se numa arena a que ninguém tem acesso a não ser o artista.
Numa das biografias de Woody Allen, recordo-me que ele terá dito ao biógrafo que era imune quer ao apupo, quer ao aplauso.
No fundo, encontramos esta ideia nos testemunhos das maiores mentes. Agradar o outro é uma ideia persistente num artista menor, ao passo que o artista maior luta contra o seu maior rival — a sua Moby Dick, se preferirem — ele próprio. Não é que o público não interesse, todavia, quando se tenta sobreviver com paixão, tudo o resto é acessório. O sobrevivente encontra-se sozinho com a sua fome.
 
Matar o crítico o quanto antes e regressar ao trabalho. Burilar o arpão. Desafiar o impossível; não sobra tempo para mais.
Do outro lado da história, a derrota. Ao sermos hipnotizados por uma espiral de insultos, vamos perdendo pouco a pouco a verticalidade. Quando damos por ela, o insulto já nos invadiu por alguma frincha da couraça e não demorará até rastejarmos até ao ataúde.
Descobrimos da pior maneira que a palavra é mágica. À força de a repetirmos, de a interiorizarmos (por exemplo: sou um falhado) somos vítimas do feitiço. Tornamo-nos falhados.
À parte isso, falamos demasiado. Somos quadros e pretendemos, enquanto o outro nos devora com o olhar, devolver-lhe uma legenda sem lacunas. Isso arruina a experiência do outro quando nos tenta ler. O medo de não ser compreendido arruina a experiência, seja ela de que teor for.
 

Crónica Roberto Gamito


Roberto Gamito

09.03.23


Esta crónica humilde é dedicada ao Roberto Gamito, sem o qual seria praticamente impossível garatujar uma prosa de qualidade tão duvidosa.

Em tempos recuados, mas não tão recuados assim, uma vez que ainda faltam queimar alguns cartuchos e andam por aí pilas matreiramente cansadas à procura de jazigo, orgulhava-me de ser detentor dos mais baixos índices de eficácia no tocante à captura de grelo. Justificava-me que trocara a cona letrada por livros poeirentos, que fizera a escolha acertada porque o que conta é o conhecimento amealhado, pese embora o pau analfabeto. Acabadinho de sair da hibernação, de mamar aqui e ali no respeitante a referências, de engordar a cabeça com sofrimento alheio, o cérebro começava a engendrar os seus próprios rastilhos. O resto não conto porque a biografia é minha e aborrece-me inventar. 

Era um tipo assim para o provinciano que, segundo as boas e más línguas, dava mais ares de pastor do que escritor — que culpa tenho eu de ter nascido num século onde ninguém valoriza a patilha — e, para destoar, uma careca em construção.
Cara pouco vendável, um pançudo em formação, menino de uma estupidez sem fim à vista e uns tomates de fazer sombra ao diabo. Dava-me e continua-me a dar um certo gozo alfinetar os bichos (nunca me deu para ser outra coisa senão aquilo que sempre fui), desde borboletas a dragões, bolotas e maçãs míticas, plagiadores a virtuosos, maratonistas e coxos. Antes a escrita encostava-nos à parede, hoje, ao espelho. E eu cagando, nem cabelo tenho.
As voltas que a arte dá, parece um carrossel de trancadas dionisíacas, alguém que aproveite a diversão.
O embotamento do gume do humor, fosse a minha condição financeira digna de inveja e saía já da folha, é merecedora de uma procissão de carpideiras — e vá de choro, vá de choro e vá de choro.

Sejamos ou não amigos, não esperem por mim, não vou ajudar à procissão.
Não sou animal
Que consinta a captura sem dar luta e levar alguns comigo. Se for urgente, procurem-me na secção dos frescos, estarei à vossa espera: com a picha de fora. Consinto que toquem nela para ver se está madura. Não perguntem à senhora da secção se dá para levar metade, ou levam-na toda ou nada feito. Não me tentem com negociatas, nisto — e apenas nisto — sou intransigente.

O homem contemporâneo está imune a tudo o que mexe verdadeiramente, reparem bem na proeza do cabrão: de pé e em coma e já nada o faz abrir a pestana. Num fósforo o novo passa a obsoleto, o genial a mentecapto, deus a mentira — está aqui uma coisa esperta. Careço de feitio para esperar por um milagre, há que trabalhar com o que temos, este magnífico bando de papagaios acéfalos.

Tudo isto ocorreu num estalar de dedos, a magia atrasou-se e o pensamento ficou-lhe com o lugar. Pensamento? Calminha aí nas classificações. Cuidado com essas frases, bramam os autores flácidos. Eles que se fodam mais os outros que dormem de luz acesa com medo do bicho papão do cancelamento.

Nem eu vos entendo, nem vocês a mim: parece que estamos casados há trinta anos. É caso para dizer: o que diria Fernando Pessoa?
Mais uma rodada, uma vez que o imaginei num tasco. Mais um livro. Peço desculpa, só consigo imaginar artistas em tascos a pedir rodadas. Em suma, é a vida e os pormenores do mundo e o seu aeiou. E esses ratos anfíbios, que ora estão aqui, ora estão na cona da mãe, ora estão a masturbar-se com o futuro, ora a escavacar o passado com marretas próprias para pessoas com necessidades especiais, armados em leitores, que nem para limpar o cu pegam num livro; esse nevoeiro de parvoíce com que inundam as caixas de comentários, essa nuvem de dedos em riste com que metralham o singular, essa mistela perfeita de taralhoucos e críticos míopes que sonham opinar sobre a escrita de costas voltadas para as estantes. Não vos consigo levar a sério enquanto confundirem uma palavra nova com D.Sebastião. Estão cansados de esperar? Também eu. Enquanto isso, vão para o caralho.

 

Vacas magras


Roberto Gamito

08.03.23

O mundo tornara-se turvo; os contornos, políticos; os sacerdotes, açougueiros — que acolhedor! Chamem-me Ninguém, caso não consigam desembaraçar-se do silêncio de outra forma.
Neste ou noutro episódio, apropriamo-nos das fragilidades através da respiração dos demais.
A respiração é o sinal de fumo, quer para o amor, quer para a morte. A perturbação na respiração revela que os capítulos da nossa biografia se revezam fora dos altares da previsibilidade.

O algoritmo assusta-se, todavia tira notas.
Tudo isto vaticinava uma boa diversão, comentaria o bobo se lograsse engendrar a coreografia de cinismo, a qual, feita de passos atrás, não é senão um pedido de socorro vozeado por um afónico.

As soluções que me ocorriam não eram satisfatórias. Eis que, nestes momentos em que podemos deitar tudo a perder e o fio da vida, aquele que fintaria o do Destino, se nos escapa dos dedos, nestes segundos grávidos começam a amadurecer lâminas e cadafalsos, inicialmente camuflados nas flores e nos perfumes da memória, de seguida às escâncaras. O Homem começa a ruir sem que lhe acudam turistas — dá-se o despetalar das amizades, o caruncho prossegue a sua obra num amor do qual sobrou uma chuva de arpões e nem a luz macula a escuridão que se apossou de certos homens. Uma constelação de cicatrizes e nenhuma promessa de ressurreição. Ah, a vida é tão-somente uma catástrofe paulatina.

Alguém deixou a porta aberta. Ao ver ao mastodonte no sofá, veio-me à memória uma linha do livro Baleia de Paul Gadenne: "Julgáramos ver um animal que dera à costa: contemplávamos um planeta morto." Não serei capaz de forjar outra frase capaz de se ocupar da minha primeira impressão ao ver o filme The Whale.
O filme exige um olhar sem arabescos: estamos diante de um cachalote encalhado a desenvincilhar-se da vida numa margem alheia às rotas turísticas. Tal como o mítico cetáceo, pouco ou nada há a fazer quando dá à costa. Há histórias tão verdadeiras que às vezes parece que nem precisam de diálogos. Embora o filme se mova sem pressa no terreno do desconforto, cada deixa é um escape. O retrato fiel só é pintado quando as palavras se ausentam da casa-gaiola de Charlie, interpretado brilhantemente por Brendan Fraser, o qual carrega o filme às costas no interior de uma prótese de última geração que, ironicamente, funciona como sarcófago. Suspeito que as outras personagens são tão-somente artifícios para tornar o filme mais digerível.

Ignoro se o filme foi ou não empobrecido por ecos manhosos de Moby Dick, parece-me um processo similar ao que é usado para insuflar os frangos com água para parecem mais pesados do que são. Seja como for, há uma inquietação nas águas, a baleia branca é manuseada e decomposta por uma rede de interpretações. O inalcançável, o que andamos aqui a fazer, a relação com a religião e como a solidão tem uma visão singular sobre a salvação, o labirinto das interpretações até nos mais pequenos gestos, as manhas de quem persegue e de quem foge. Quiçá exista uma homenagem ao livro de Melville, daí os ensaios, a literatura, o desenlace da história, o romper com os formatos de antanho.
A vida orbita em torno de um desejo de capturar qualquer coisa, uns é mais carapaus, outros baleias brancas. No entanto, é aqui que a Baleia nos oferece uma face pouca explorada por exegetas. A baleia branca é uma promessa de regresso, tem de permanecer incapturável, caso contrário redundará no fado de Ulisses. É impossível regressar a Ítaca, outro nome para passado. 

"Não estou interessado em ser salvo." Quem já ouviu esta frase da boca de um suicida saberá o que é levar com o arpão no lombo. O homem a sós com as suas migalhas, coordenadas onde a maquilhagem e o discurso enaltecedor não singram. Sem a ficção de salvação o que sobra?
Perante uma plêiade de sinais, assistimos, ao longo do filme, à concretização da profecia há muito anunciada. O que é que andamos a fazer com a nossa vida? Houve breves momentos em que a minha cabeça se tornou um festival de ecos durante o qual ricocheteavam frases soltas do conto de Paul Gadenne: "gostava de ser a baleia", "quantas das pessoas que ouviram falar da baleia se contentaram com um encolher de ombros e voltaram às suas vidas. Como se víssemos uma baleia todos os domingos!"; "Somos pequeninos, sem nenhum poder, somos tão pequeninos e impotentes…; Leviatã encalhado; aquela baleia dava a ideia de ser a última da sua espécie, como cada homem cuja vida se extingue nos parece ser o último homem."

 

The Whale

 


Roberto Gamito

06.03.23

Receio ficar órfão de uma das maiores figuras do contorcionismo português. Com uma flexibilidade de fazer inveja ao ginasta chinês, a nossa referência encolhe-se e espreguiça-se quando é altura de discorrer ou gaguejar sobre saúde mental, identidade de género, racismo, feminismo, gaming e, em pingando nos trends, comédia. A dúvida mantém-se. Tji ou Diogo Faro?

Sensível a certas causas, idiota a certos efeitos, que é como quem diz, negacionista da Terceira Lei de Newton, o humorista, o qual já foi filho do Diabo e de um sem-número de pares de tomates ao longo da História, basta queimar pestanas com livros dotados de letra miúda, é uma pinhata compósita que atrai para si uma chusma de paus ávidos. Lembro-me de falar com a minha agente, contou-me um palhaço de renome, e dizer-lhe: "levar com um pau no lombo tem tudo a ver comigo". Enquanto manobrador do pau, autor de futuras vergastadas, cabe-me a mim, supondo que sou um bobo no activo, singularizar o pau em prosa, isto é, pôr a cacetada em obra. Não é despiciendo frisar que a chibatada é uma chibatada figurada, que vem dar ao mesmo, uma vez que o verso atirado raivosamente na altura certa magoa mais que uma vara nas canelas. Tenho, como todos vocês, receio que isto acabe.

Não quero incomodar Deus com questões menores, todavia, em tempos não muito recuados, nos tempos em que as pessoas ainda pensavam, dez dias após os animais perderem a fala, o comediante tinha um trabalhinho que era um espectáculo — contagiar a turba com galhofa. Presentemente, há uma franja de seres pensantes que crê, religiosamente, que o humor serve para fazer pensar. Não me oponho, apenas retruco com este magro desabafo: quer dizer que há pessoas que concluem o ensino superior e meia dúzia de workshops, nomeadamente unhas de gel e empreendedorismo (começo a achar que é mais fácil fugir à morte que aos anúncios do Ricardo Teixeira, o empreendedor careca) passam pela vida sem que se acenda uma centelha no miolo, porém, em contacto com este humorista-filósofo descobrem as maravilhas de pôr a cachola a carburar. Pintando a cena a preto e branco, para acentuar o dramatismo e passar uma mensagem política acerca dos preços dos materiais de pintura, esbocemos mentalmente um macho analfabeto, amiúde tóxico, seja pelo discurso, seja pelo hálito, todo esfarrapado a fruir do seu chorudo ordenado mínimo num bar, a molhar o bico numa Cergal enquanto ouve uns comediantes amadores testarem o seu material. E eis que o nosso macho renascido cogita: "compreendo o teu ponto de vista, devemos ser mais empáticos, no entanto se este cabrão faz mais uma piada sobre o Benfica vou-lhe aos cornos."
Outro testemunho: "Comecei a gostar dessas ideias do ponto de vista estético, pintei as unhas e quando dei conta já era feminista."

O Diogo Faro é para os humoristas o que The Office ou o Seinfield são para os humoristas: imperdível. Como série de conforto, uma espécie de Friends cujo orçamento foi todo para as camisas(1), há que revisitá-lo vezes sem conta, é como um clássico, de cada vez que mergulhamos nele somos surpreendidos e encontramos outra gralha.

No que toca à inércia, falhas de comunicação, as carambolas entre as pernas do eco, a vontade de terminar frases com palavras como 'empatia', 'privilégio', 'tóxico', a arte de prosseguir as conversas aos solavancos, bem como encavalgamentos dignos de um poeta beatnik em apneia, e uma miríade de qualidades que lhe são atribuídas sem haver polícia ao barulho, bem como a qualquer humorista, e daí a tese que são pertencentes à mesma espécie, o Diogo é um caso de estudo. Tudo isso é desculpável, só não lhe perdoo o desprestígio a que votou a palavra idiota. As levas de haters que brincam com as metamorfoses acríticas do termo esvaziaram-no de sentido. Idiota é do Diogo Faro como o Algarve é dos estrangeiros.
Basta de farpas, o meu amor pelo humorista activista é como as rendas em Portugal: não pára de aumentar.

Fazendo um paralelismo com uma área que fica nos antípodas do ofício do Diogo Faro, o Humor, essa arte de malditos, é pôr a liberdade por extenso. É um pouco como falar à parva.
Recolhi pareceres jurídicos para saber se é possível chamar Diogo Faro de Humorista. Porém, como não percebo patavina do linguajar dos juristas, fiquei na mesma. Contentemo-nos com a suposição.

O humorista activista, ao contrário da gorda, a mim não me convém. Mas qual é o problema do activismo ecléctico? Empreguemos a mangueira num cenário de incêndio, a qual raramente é usada em terreno poético. Esses bombeiros confusos e amiudadas vezes acagaçados, solícitos a apagar fogos ilusórios das redes sociais e a fugir a sete pés dos verdadeiros, parecem não perceber as limitações da mangueira. Ao tentar apagar mil fogos em simultâneo, dividem as pingas pelas aldeias, resultando em coisa nenhuma. No máximo refresca a poupa, mas o mundo arde na mesma.

Admiro a criatividade selvagem de Diogo Faro, inspirado em Nietzsche põe em prática "não há factos, apenas interpretações" (2). Aproveita tudo o que lhe bate à porta, excepto Jeovás, a isto se chama sustentabilidade. Um apodo que lhe assentaria bem: respigador das redes. O que é difícil não é encontrar o amor, difícil é dar de caras com um insulto original quando o alvo é o Diogo Faro. Proponho até que, daqui em diante, os cursos de escrita criativa se apropriem desde desafio — criar formas inéditas de insultar o Diogo Faro. Não consintamos a sedução por parte de facilitismos do tipo 'burro do caralho', somos melhores que isso. A quem alcançar tamanha proeza será dado o título Super-Camões. Não obstante o desafio embasbacante, não me devo amedrontar. Eis a minha achega, tomem lá uma saraivada de meiguice: polícia de machos, evangelista com paleio importado, paladino do pipi indefeso, monge da inocência, uma vez que são os outros que lhe descobrem a careca, sumo pontífice da baboseira, catapulta de 'humorista', câmara de eco de meia dúzia de citações rapinadas a um doente de Alzheimer, câmara anecoica do seu ego, laracheador indeciso, sacristão da virtude, perito em matéria de toxicidade masculina, analista do vitimário feminino, promotor do vício (também não podem ser só coisas más), portageiro do twitter, árbitro das carícias, fiscal do orgasmo; cumpri, já contribui para o peditório. Tentem vocês agora.

Se tenho alguma coisa contra o Diogo Faro? Nada, a não ser a sua omnipresença. Uma coisa que nunca lhe perdoarei. Respira fundo, não te podes irritar, Roberto. Volta e meia estou eu a espairecer, que é como quem diz, a vagabundear pelo Instagram à cata de mamalhudas, um espécime capaz de me fazer acreditar em Deus e no Diabo em simultâneo, e, inocente, parto turisticamente rumo à legenda da foto, que eu gosto de me instruir, e apanho, de chofre, uma citação de Diogo Faro. São tetas, Diogo, não tens lugar de fala, deixa o decote falar na sua língua. Não oprimas os seios com o teu papaguear. Retirando o bigode desta prosa, mudando de mão, como diriam os poetas, é uma tristeza, uma decadência, o Diogo Faro surripiou o lugar sob as tetas que antes era ocupado por Fernando Pessoa e Saramago. Depois digam-me que a literatura não está a morrer. 

Mas o Diogo Faro não é assim como o pintas, comunicam-me a esbracejar, deixando cair as cartolinas. Vamos lá ter calma, às tantas só me falta dizerem que o Diogo Faro é apenas uma prótese de última geração dentro da qual está o Brendan Fraser, protagonista no filme A Baleia, a escarafunchar o maroto.

Enquanto activista praticante, uma vez que não faço outra coisa senão conversar com velhotes, já me ri com o trabalho do Diogo Faro, não me orgulho, mas já pedi a Deus para me perdoar.
Desabafei; e viveremos felizes para sempre, caso o Diogo não problematize este lugar-comum.

Em todo o caso, há uma pergunta que paira sobre esta crónica. A sua razão de existir. É simples: a série à volta da personagem Diogo Faro, temi que esta fosse a minha última oportunidade de confeccionar comentário humorístico sobre o nosso poeta.

Escudam-se no 'é só uma piada'. Isso é o escudo polido de Atena do humorista. Vocês não estão preparados para ter esta conversa. 

(1) No capítulo do estilo, os humoristas portugueses vêem-no como um mestre. Aristófanes é o pai da Comédia; Faro, o pai das camisas vistosas.

(2) Forte candidato a um lugar no Guiness como ser humano com mais interpretações ao lado. Uma espécie de Umberto Eco, mas sem o primeiro nome.

 

Diogo Faro, Crónica humor, _Roberto Gamito


Roberto Gamito

12.02.23

Regresso a mim inspirado no desenlace do mito do rei Erisícton. Ocupar espaços vazios, todo o jogo é isso, escreveu Gonçalo M. Tavares, até a gula, acrescento meu. 

O jogo começa assim: a ave ensaia o voo onde o suicida perdeu o nome; a minha cabeça feita mármore já enceleirou um sem-número de profundidades; o corpo converte-se em labirinto
percorrido ora pelo amor, ora pela cólera. Queremos continuar a avançar neste xadrez onde as casas foram remodeladas em cadafalso; qual das peças escapará para contar a história? 

A curiosidade cessa com a primeira cornada do Minotauro. A fome cataloga bichos e homens. Ensaia-se a verticalidade onde calha.

Aquilo que a memória rumina, o olfacto ressuscita — que perturbador! Demónios mudam de dono, saltitando de cabeça em cabeça: eis o legado — que as entrelinhas encontrem novos olhos. 

Um homem que dá desgostos aos seus como empresas dão lucros. Fruto larapiado de uma árvore jamais imaginada. 

Sempre a meio do trajecto 
entre a queda e o regresso
nenhuma palavra, tudo é silêncio.

A guilhotina não interrompe o olhar do bobo. Onde tinhas a cabeça? Descansa aqui antes de continuares a tua odisseia de decapitado. 

Cada palavra engolida pelo rei glutão gera um hieróglifo. Em faltando tempo, os homens preencherão as lacunas com deixas divinas — quão prodigioso é o desespero humano! 

Cada frase engolida pelo tempo será uma semente de futuro adiado. 

Silêncio, a arca
antidiluviana.

 

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Roberto Gamito

31.12.22

Como toda a gente, também fiz a minha viagem, idolatrei miragens e falsos deuses, empenhei-me em algumas metamorfoses e desdenhei outras. Andei por aí à procura do meu nome em cumes e debaixo de saias, vagabundeei sem norte nos socalcos dessas carnes cujo nome esqueci —calma com a fusca, o poeta é um fingidor.

Deixei o amor fugir demasiadas vezes, dando a ideia que não quero nada com ele — o que não podia estar mais longe da verdade. Todos os silêncios são altares em seu nome. O cínico não passa de um romântico com uma biografia arruinada.

Olhando para trás, uma vez que é altura de balanços, parte desta odisseia escanzelada foi andar em círculos. Se não fico bem na fotografia a experiência não fica melhor.

A maturidade é isso — darmo-nos conta que, afinal, não andámos grande coisa. Seja no capítulo do conhecimento, logo eu que não recuo diante de nenhum livro — e para quê? Grande parte da vida adulta passei-a a ricochetear entre fracassos, mágoas, traições, desilusões e mal-entendidos. Desses tempos sobrou o autorretrato: um pardal às cabeçadas numa casa de espelhos. De migalha a dragão graças ao ego. Fui apadrinhado por várias quedas, a minha cabeça estava sempre noutro lado. Sempre equiparei o sofrimento a uma vida nova em botão. Não há meio de desabrochar na merda deste... Cansei-me de desertos como Borges se cansou de labirintos e tigres. Só quero saborear os frutos da minha solidão. Libertamo-nos dos grilhões de um paraíso artificial e ingressamos noutro. O Homem é o mesmo paspalho de sempre — não tenham ilusões de melhorias.

Passei os dias agarrado à folha, ora a escrever, ora a ler, a ofuscar-me com vultos cheios de lâminas, a embriagar-me com o canto e o silêncio das sereias. Foram anos desvairados, durante os quais acordava com os corvos de Odin a segredar-me aos ouvidos. Memória e Pensamento.

Para que eu fique engaiolado para sempre nestas folhas, aprisionado em linhas finais jamais mansas, urge descortinar o limite da mão. Não tenho tempo para povoar as entrelinhas com justificações, outros que cumpram esses Carnavais. Não tenho tempo nem estômago para as vossas falinhas mansas. Preciso de digerir o meu inferno, e é só. Bom ano.

 

mais um ano


Roberto Gamito

04.12.22

Quero cultivar-me. E então, quem te impede, questiona a mesma personagem com outra voz. Nada restou, todavia, da sua poesia.
O bando de estorninhos lesa-nos o intelecto com o seu circo de formas. Reparem como é belo o medo e o falcão. K. naturalmente faz parte do cânone eleito. O olhar caído na folha tem por fito iluminar um pouco mais o corpo feito lacunas de Deus, o qual sobreviveu graças às citações enviesadas das aves negras. Em não faltando coragem, será o estudo introdutório dedicado às fontes das cicatrizes e, em ganhando balanço, havemos de desmentir Ovídio. Ponham lá um sorriso nessa cara desfeita, arranjem lá espaço para mais uma leva de feridas.
Fartinho dessa prosa atrelada ao lugar e ao tempo e, aproveitando que pusemos a cabeça no cepo, da altura a reboque da fama. Desta feita, farei aquilo que acabei de condenar.
Aqui estou, vindo do bafo do Deus das Moscas. Cacemos então grilos com mimos de caça, façamos do empecilho ratoeira.
Hermes, do outro lado da porta, deus dos gonzos. Acaso deliras?
Ali onde as máscaras foram penduradas jaz um sem-número de artes. Já aqui andas? Não escapaste há pouco do cadafalso? Não me envergonho de ser esta triste figura, sem Rocinante mas com pança tenho vencido os meus ágeis moinhos.
Um dia essas palavras por-me-ão a correr. A minutos do fim todos os versos soarão a profecia. Entretanto não confundas putas com Hécate. Estou arruinado: fui visto a escrever uma frase genial.
Abreviadamente, podes dizer, quanto ao estilo da canção que te chega aos ouvidos, que é uma perífrase para 'amo-te'. Hei-de fermentar as mais magras migalhas, até lá não expulsarei as mandíbulas da escrita.
Em nome de costumes mais antigos, comunicar-vos-ei que 'escapadela' era o nome dado a uma dança cómica de natureza obscena. Daqui até ao sexo vai um mal-entendido, diria um pau friorento.
Há mais de mil anos que o Helleborus deixou de fazer efeito.
Onde antes havia um mero buraco há hoje um báratro, um poço onde eram atirados os criminosos em Atenas. Para evitar a hiperinterpretação do termo, digamos que nunca fui a Atenas e troquei os criminosos por fantasmas. Estás com azia, não é?
As mulheres interditam o reino do baixo ventre
isto ouvi eu quando fui à Antiga Grécia
altares ontem quentes hoje abandonados.
A fruta que amadureceu antes de o Homem lhe dar nome, pesada pela mão desonesta do poeta, lida por quem confunde gotas com oceanos.
Ideias prensadas num instante. Examinarei isso com os meus melhores olhos, prometo, mentimos nós descaradamente.
Foda, competente vocábulo; serve-te do meu corpo e da minha língua desfivelada. Ó tolo, sussurra a deusa, anda cá, livra-te dessa cegueira. Seja amor ou mais uma maquinação de Empusa, a partir daí tudo o que vier é ganho.
Buscando a mulher, aqui chegamos. A solidão já nos permite outros folguedos. Nota-se uma falta de vocabulário após o império do calor. Empusa, rainha da metamorfose, alimenta-se de carne de homem.
Em todo o caso, não teríamos escapado inteiros até aqui. Não tiro uma vírgula ao meu desnorte.
 

roberto gamito


Roberto Gamito

27.11.22

O inferno concretiza-se por meio das obras que lhe caem dos dedos, amiúde já com cabeças capazes de fundar novas escolas de desespero. A temporada no Círculo dos Gigantes protege-o de um envenenamento excessivo, graças aos gumes, persiste unido aos demónios; as asas derretidas e a queda, outro nome para metamorfose.
 
A cólera é dotada de luz própria. Apesar de encarregada de canalizar os animais para a arca das ideias, ela é igualmente o que fica de fora, as sobras clandestinas com a mania de grandeza, o que torna o imensurável em ilha, que é como quem diz, o dilúvio posto em obra de sangue. Do mal o menos.
 
Quando a poesia é encostada contra à parede, esmagada pela pressão de todas as eras, as bolorentas e as que hão-de vir, o poeta não tem outra escapatória senão torna-se um cachalote albino. Fazer gato-sapato da profundidade, florescer onde a luz se extingue não está altura do peixe miúdo.
 
Tentam engaiolá-lo numa definição, todavia ele extravasa do molde da descrição. Metal fundente e zero absoluto em simultâneo.
 
Ó bobo canoro, não te limitaste a gerar confusões, empecilhos e fogueiras do bem. O homem à mercê do desconhecido, o mesmo bicho assustado do início.
 
O homem não viu nada que o fizesse esquecer a fome. Ainda assim, engordou. A solidão engordada pelos fracassos amorosos.
Vingança? Qual quê? Um menu frio de lamber os dedos, eis as palavras do Diabo diante do cadáver de Deus.
 
Uma única linha de um gigante serve como alimento para um enxame de artistas. As postas do legado fervilham de fome e mediocridade alheias. O desmantelamento pacífico do cachalote albino por formigas oportunistas é apenas uma paródia ao oitavo círculo de Dante. E solução? Calma, primeiro tenho de engolir o cosmos, sussurra Dioniso aos ouvidos da morte. Mesclem-se então as máscaras, as vagas de heterónimos, eis chegada a altura de fundir as infinitas possibilidades num único rosto.
 

Círculo dos Gigantes, primeiro rascunho


Roberto Gamito

13.11.22

Não resisti e dei-lhe um murro nas trombas. A culpa foi dele, começou a pensar antes de cada frase. O silêncio enoja-me. Ele que venha agora dizer-me que gosta de poesia e reforço-lhe a dose. A paciência tem limites.
Dei voltas ao miolo, não vi outra solução senão pegar na cabeça dele e ensaiar um xilofone no balcão da taberna. Não correu como esperava, a música não é ofício de uma tarde, é para se ir fazendo.
Poucas pessoas sabem o que é poesia, confundem-na com uma chave que destranca pernas exigentes, e até que não desgosto do engano. É altura de colonizar o espaço mental com tempestades, lâminas e arrancar ao perfume os nomes conducentes aos passos em falso. Metade do trabalho está feito, o resto é convosco. Fiz o mais difícil, concretizar sem medos uma frase sem nexo.
Se apanhou e calou, a culpa é dele. Já há meses que anunciava a leva de carinhos ásperos. Teve mais que tempo para se preparar. A melhor defesa é...apanhou logo, nem o deixei acabar. Tanta forma de se defender e o gajo recorre a uma frase rançosa? Apanhou foi poucas. Afastar-me dele por causa disso? Que estupidez, nunca estivemos tão amigos. A coça afinou-o por dentro, até dá gosto, parece um relógio suíço. Juro-vos pela saúde do meu Piruças que, no que depender de mim, Deus me dê forças e as finanças não mas retirem, hei-de manter esta amizade dê por onde der.

*

à parte os galos amealhados em petiz, permanecia cabeça dura. uma cabecinha esculpida pela queda que até metia dó. o coração, tão confiável como um economista a mandar palpites na televisão, de queixo caído a cada esquina, confundindo as didascálias do quotidiano com a voz das musas, a braços com o judo poético, usava o força do mundo contra ele. a força poderia parecer, aos olhos dos ciclopes contemporâneos, insuportavelmente tóxica.
X., cercado pelo destino qual chouriço encurralado por uma família de alentejanos, pensei eu na pausa de outro conto, tipo personagem saída das goelas de Xerazade. não confiem nessas lengalengas: não há forma de adiar a lâmina.
temos de acabar, carpe a mulher, espera, riposta o macho, se aguentaste dez anos de uma relação de merda também aguentas mais dez minutos, agora ouves o que calei durante este tempo todo.
amor...
querido, ou melhor, ex-querido, estraguei a juventude a aturar-te, só de acordar ao teu lado esfrangalhava-me os nervos durante o resto do dia, metes-me nojo e está tudo bem. casei com um homem que mais parece um caniche a quem lhe foi ensinado a andar na vertical num circo de vão de escada. no campeonato dos medíocres, és um campeão, palmas para ti. o nosso amor foi um flop. afadigavas-te em cama alheia, não é, ornitólogo de pássaras implumes? e o pior é que nem foder sabes. e agora: o que digo às minhas amigas? como explicar esta relação de dez anos?
quero acabar.
isso não é assim, minha amiga, retruca o homem, tens de dar dois meses à casa.

*
 
O livro: abro-o conforme a sede, sepulto-me nele e eis-me regressado das águas com outro nome com a cabeça de João Baptista às costas. A memória é uma estante inacessível.
Ando por aí
amparado em ficções
a fazer dos cornos do Diabo as andas
com que simulo a intrepidez em cima das áscuas.
Sou o cornaca do meu inferno.
O marcador dos livros é a caneta. O apeadeiro da leitura transformado em semente de montanha. Pedi-Lhe a sombra. A interpretação é uma farsa, todas as frases são ruas de sentido único. O que me falta para ser igual aos outros mortos? A sombra foi-me concedida. A verdade tem um certo gosto em encurralar-nos. Estamos de novo nas vésperas de uma nova página, nós que, após o êxodo das mãos esquerdas rumo ao Hades, ficámos maravilhosamente indefesos contra o ignoto. Com efeito, escrever e ser descrente é a mesma coisa.

Cornaca do meu inferno, Roberto Gamito

 
 


Roberto Gamito

13.11.22

O mundo não desconfia que se move conforme o meu plano. Fantoche assíduo nas mãos de Deus. O mentecapto explica:
a capacidade de alfabetizar o público com o fogo pertence ao passado. Contentem-se com esse refrão de aleijados.
 
Se não vos inquieta nem um pouco este bloco de gelo feito crisálida, apelidados por uns por outros de século XXI, dentro do qual mamutes e bichos cacaquéticos catequizam as cabeças em flor, cérebros empanturrados de factos cuja mão emperra a ponto da catástrofe diante da necessidade de dar o salto. O poeta explica: as Sibérias caseiras satirizam o dia em que o Diabo não se conseguiu efectivar diante Deus.
O inferno é tão-somente uma paródia de uma gaiola.
 
O gigante que lutava contra o alfabeto assassino calou-se. Romantizámos os pequeninos. Cada um é tanto Liliputiano quanto Gulliver. Tens medo da escuridão? Nada temas, basta um homem para iluminar o mundo. Do Paraíso não colhi nada a não ser o desespero de Botticelli ao dar-se conta que lhe faltava talento para pintar a salvação no abismo de Dante.
 
Falemos antes do dia em que omnipotência de Deus foi posta em causa. Temos de recuar bastante até um tempo em que o Narciso era uma figura patusca e marginal. Houve um momento em que o riso cilindrou a cólera divina. Quando, no inferno, Luciano e Diógenes riam sem entraves: eis o pesadelo dos deuses, poetas de perna curta e comediantes acagaçados. Urge recuperar um riso capaz abalar os pilares da criação, um riso qual seta envenenada rumo ao coração da ordem postiça.
 
*
 
Ó meu animal sem direito a nada, desdenhando uns e divinizando outros à queima-roupa, atulhando o teu desnorte com notas de rodapé, teimoso até mesmo com olheiras, aguentemos a porrada, os insultos e os aplausos, o sabor da vida passou-se para o lado da lendas; risos enlatados, textos enlatados, personagens e deuses enlatados, artistas que mais valia estarem numa lata, eis o miolo afadigado do homem contemporâneo.
 
Ridicularizo-me segundo as normas. Isso humaniza-me e ajuda-me a ingressar na feira das vaidades. Enquanto uns semeiam ódio, há quem seja mais prático e semeie dinamite nas entrelinhas, há-de rebentar com fileiras inteiras de exegetas, haters e bajuladores, o século há-de rebentar, uma pirotécnica de afónicos e papagaios. Não vos guardo rancor, guardo-vos num ponto para que nunca me esqueça da vossa dimensão, a parte boa é que trarão à tona as cosmicómicas de ITALO CALVINO, um tipo incontornável nestes temas.
 
O currículo é um tratado de humor se for proferido com a cabeça no cepo. Onde pensam que eu tenho estado este tempo todo?
 
Desentulhar obras como quem procura cadáveres de deuses caídos debaixo de migalhas. Eis um labor como qualquer outro.
 
Tens de humanizar o personagem. Humanizar mas é o caralho. Não vos guardo rancor, guarda-vos antes numa câmara anecoica, talvez assim compreendam. Com que então agarrados às vossas certezas? Quer me parecer que só precisam de estar a sós com o vosso sangue para enlouquecerem.
 

refrão de aleijados, Roberto Gamito

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