Roberto Gamito
14.07.21
Para homens pouco abonados, que é como quem diz, com poucos meios, melhor dizendo, sem tomates, quero dizer, sem um terço do corpo, dado que o número de magia correu mal, é impossível torrar uma nota de conto por cada mulher que se senta à mesa com fins de arejar a marotice. Aqui entra o discernimento ou, se preferirem, o jogo de azar.
Fui eu que criei o meu mundo e dele só tirei benefícios. Acaso já me viram por aí, a altas horas da noite, refiro-me aos escassos dias onde cometi a imprudência de não me embebedar, a fazer alarde de tal? Meus amigos, é possível engendrar um mundinho e permanecer calado. Ninguém é obrigado a pavonear-se.
Ninguém, repito, ninguém, e repito novamente dado que tenho ADN de papagaio, ninguém parte do princípio de que um jantar em sítio neutro é caracterizado por uma demorada cerimónia imaculada; em boa verdade, os suados engulhos, os improvisos em cima do joelho, longe de constituírem um brilharete, e a pompa de apresentar o pénis à mulher numa prosa perfumada. Tiros no escuro à luz da vela?, desculpem a recaída na poesia.
Quando vejo com estes olhos fatigados como toda a fome da sociedade está, entre nós, corrompida pela entediante copiosidade, achegas que engrossam a conversa ao sabor dos ditames da moda, sinto-me estrangeiro. Cabrões, burocratizaram o canibalismo entre pessoas adultas. Em tempos idos, era impensável o manobrador do pénis preludiar a travessa das carnes com um rodízio de verduras.
O pénis tem sido pouco estudado. Quanto mais fome tem, mais engrossa. É um animal inspirador que não passa cartão à lógica.
Ao pé dele, os poetas malditos parecem meninos de coro.
Isso, mais do que todas as nossas magras vitórias, dado que a alface não enche a barriga, atrela-se a uma ideia mais amarga da vida. Andamos aqui a rondar carcaças há muito vandalizadas por necrófagos e a fazer render o fiapo de carne entalado entre os dentes. Foi um repasto excelente e encheu-me a pança: eis o que não podemos dizer por estes dias.
Quando nu, penso com os meus botões tatuados no peito que a vida, se lhe dessem uma oportunidade, podia ser outra coisa.
Não sou crente mas.
O nome de Deus vem à baila de vez em quando, no decorrer da foda — que me atrapalha e desmotiva. Então um gajo labuta a anca como um lunático para depois Outro ficar com os louros? Isso faz-se?
Nem na fornicação há justiça. O pénis não merecia este fado.