Roberto Gamito
13.11.22
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Roberto Gamito
13.11.22
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Roberto Gamito
22.06.21
Uma porta que ora se abre, ora se fecha. Nas imediações deste nada, o louco contabiliza a entrada e a saída de espíritos. Só precisamos de um punhado de loucura para singularizar o quotidiano.
Autoridades desinfectam os bordéis de eufemismos e perífrases, as pragas mais comuns do século. Há velhos empilhados em furgonetas, qual cortiça, parando em todos os apeadeiros da solidão. Próxima paragem: cemitério.
Lutadores férreos na arena da hipocrisia, no entanto, basta um olhar e estão desarmados. Um instante para me inteirar do mais importante. Antes de o corpo ser baleado por uma salva de mentiras, o amor, no rescaldo, poesia.
Canetti esclareceu-nos em relação ao Homem: “Tudo o que aprendo transformo em medo”. Fugir ao conhecimento com um sorriso nos lábios, como o bobo que ridiculariza, em plena queda, as alturas.
Autoridades encefálicas procuram milhões de neurónios em fuga. Graças à machadada da arte, escapuliram-se da cabeça aberta em duas faces. Foram feitos reféns por um perfume. O resto está por apurar.
Arte penteada, para não envergonhar ninguém. O embuste acabará um dia; houve artistas que esconderam dinamite em quadros aparentemente inócuos. Hei-de dinamitar um século inteiro com a minha obra, cogitava um escritor na sua mansarda.
Século XXX, os Himalaias de lixo. Alpinistas ricos escalam montanhas reais, pobres, montanhas de lixo. Onde residirá o verdadeiro desafio?
Somos fúria, som, duas mãos e nenhuma cabeça. O decapitado ambiciona subir às alturas inacessíveis. Possivelmente, uma reminiscência de Babel.
É preciso fechar o cometa numa sala e fazê-lo orbitar em torno de uma rosa decrépita. O gelo e o degelo foram suspensos. A rosa enquanto centro pulsante deste microcosmos.
Objectivo de vida: acordar cedo todos os dias com o fito de catalogar borboletas nunca antes vistas.
A vida é um voo gaguejado de A a Z.
Actéon enlouqueceu com os cães dentro da cabeça. Volta e meia as vozes surgem apinhadas de dentes.
As coisas não saem forçosamente como nós desejamos, nem nos livramos da maldição sem nos aproximarmos da morte. Estamos sujeitos aos caprichos dos deuses. Hoje companheiros, amanhã predadores. Não há forma de nos defendermos daqueles que outrora amámos.
A memória é a homenagem ao fogo e à Biblioteca de Alexandria. O que arde e o que fica é um mistério.
O poeta abre a boca, a fénix assoma-se, só com a cabeça de fora. Há milénios que escolheu as goelas do vate como ninho. Reza a lenda que se acoitara no efémero para dar mais valor à eternidade.
O nome da amada está ligado ao ventilador, provavelmente não resistirá. Contamos os dias como quem conta sílabas num poema alexandrino. O que se observa no poema não é um pássaro, é uma palavra cheia de surpresas que, verso sim, verso não, regressa para nos ensinar a voar.
Paixão, amor, ódio, esquecimento. A que temperatura ardem os nomes? Respondo: ardem ao rés do zero absoluto.
Roberto Gamito
17.06.21
Aplaudo os poemas e eles como que me respondem: O que pretende este imbecil de nós?
Terminar uma relação com um minuto de silêncio. Pegar nas coisas e sair da vida dessa pessoa sem mais justificações. Uma despedida sem palavras.
Sou bobo de um rei decapitado, terá dito um louco há muito tempo.
Muitos escritores recusam-se a usar a palavra empatia e são olhados de lado. Mais uma fissura na ficção do século.
A pandemia agudiza-se. Sexo presencial só em 2022.
Interromper o afã do século com um grito. Vida miserável, uma biografia em maiúsculas.
Uma inédita hipocrisia chegou com força a este século. Quem não se conseguir adaptar vai ter de abandonar a cidade. Treinar o sorriso frente ao espelho: prepararmo-nos para o que aí vem.
Se o homem é um animal que sabe esperar, como escreveu Gonçalo M. Tavares, há quanto tempo estamos extintos?
Não sou xamã, não passo cartão aos sinais e aos astros. Deambulo pelo mundo como se não fosse daqui. As cabeças das sacerdotisas explodiram com mais um prenúncio de guerra, atingiram o limite.
Ao rés da rosa é mais fácil suportar situações ásperas, hostis.
O homem irremediavelmente só é quem exorcizou da vida o perfume.
Estou com um pé no cadafalso e o outro no paraíso. Eis que sou obrigado a dançar: para onde serei conduzido pela coreografia?
Um século sem cumes novos. Escaladas turísticas.
Não posso deixar de fazer piadas por motivos sagrados. Terá alguém alguma vez dito isto?
De pé ou no chão, o importante é que não me roubem a esperança.
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