Roberto Gamito
06.08.22
— isto é um acrescento da minha lavra — de olhinho bem aberto para não comprarmos teorias usadas a preço de novas.
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Roberto Gamito
06.08.22
— isto é um acrescento da minha lavra — de olhinho bem aberto para não comprarmos teorias usadas a preço de novas.
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Roberto Gamito
06.04.21
Não me importo de o reconhecer: há dias em que sou incapaz de escrever sobre os ditos temas sérios, a saber: vida, morte e amor. Os medonhos chamarizes — sereias, se preferirem — que nos acenam e saracoteiam de molde a engessar-nos, amiúde engendrados pelo tédio, impedem a expansão da língua. E todavia. Admiro a paciência do mundo, esse cabrão balofo não desiste facilmente de nós. Ao rés da mesa, encalhado qual cachalote no areal, entre copos, o bêbedo estrebucha o seu canto de cisne furibundo.
Talvez sejam antes de mais nada, refiro-me ao cérebro e o coração, apêndices decorativos, principalmente quando não ocupados a ofertar-nos dor em doses de elefante. Há coisas boas na vida, uma frase que costumo gritar nas ruas desertas — eu já não faço número. Repito essa magia uma e outra vez, mas nos recantos íntimos onde as máscaras descansam e revelam a precariedade do rosto insinua-se uma incerteza crescente.
O escritor — há quem, em pleno século XXI, o apode de artista — entra em trabalho de parto de cada vez que se aproxima de uma folha em branco. Sabem lá as mulheres (as não artistas, que as há) o que é a dor da criação. Sabem lá o que é dar à luz quando o mundo nos quer ver pelas costas. Deixei que o vento, às vezes lobo no seu linguajar nocturno, outras apenas vento a necessitar de edição, fizesse de mim o que bem entendesse. Consenti que pegasse em mim como quem pega num papagaio-de-papel e o eleva. Se esquecermos as tentativas goradas, os voos abortados e os enguiços até que é uma bela vida. Em havendo tempo, nesta ou noutra vida, havemos de debater todas as questiúnculas na entrevista, quem é como quem diz, no julgamento final. Apesar disso, respiro. De certo modo, achei isto significativo. Seria fútil descrever a respiração. Contentemo-nos com a sua fruição, que não é coisa pouca. Nunca vi, escrito ou gritado, ninguém a pronunciar-se desta maneira: "A respiração é o meu orgulho, a minha alegria, fui eu que, apesar das adversidades, mortes, amores caídos no esquecimento, a amestrei, contudo é ela que me borda a memória".
Mas raio de crónica vem a ser esta afinal? Considerem-na um prelúdio armado ao pingarelho. Ataquemos, finalmente, a carne: as mamas. Antigamente, as mamas eram abordadas directamente, hoje, neste império de fracalhotes, no qual a cabeça propícia ao cultivo de bambochatas singra, são, quando muito, cantadas tangencialmente. Aedos com medo de levar a língua às cordas.
Vamos fazer de conta que isto acontece. Aparecem as mamas no radar do homem. Este, armado em paladino da vulva, desbobina parvamente: toda montes de inteligência, montes de talento, montes de sofisticação. Mas que conversa vem a ser esta? O caralho está a pagar alguma promessa? Conheces a mulher de algum lado para lhe presenteares com tamanhas patranhas, para a sufocares com esse novelo de apodos?
A maior parte das palavras do meu repertório são demasiado simpáticas para caracterizar esse novo espécime masculino, esse filho da puta.
Ó Roberto, questiona o leitor espicaçado pela curiosidade, serás porventura um entendido em tetas? Sim, mas digo-lo com modéstia. Não adquiri a reputação de olheiro de mamaçal por meios desonestos, não levei a cabo trafulhas nem tive acesso a cunhas, se hoje sou uma sumidade no assunto é graças ao meu esforço incessante no tocante à vistoria de decotes. Entretanto o mar de leitores — dois ou três, mas o ego presta-se a delírios — é invadido napoleonicamente por uma convicção de que o homem está de posse de uma singular desenvoltura capaz de extrair poesia até do par de mamas mais parco, embora não saibam com certeza se esse conhecimento é transmissível para criaturas inexperientes, daí os soluços na hesitação.
Em jeito de achega existencial, as mamas são o guru que necessitam na vossa vida. Acompanhados pelas mamas, os altos e baixos da vida levam-se bem. Essa dança de úberes ensina-nos a ver o lado positivo até nos dias mais negros. Eis o que qualquer manual de brejeirice nos ensina, caso o leitor tenha paciência para o ler devidamente.
Estão mais alegres? Óptimo. Contudo, não é uma alegria qualquer, é uma alegria serpentiforme.
Roberto Gamito
05.02.21
Hoje não me apetece escrever sobre marotice. Acaso estás são de cabeça e de espírito por estares a recusar essa proposta? É que agir de maneira parva e falar-se estupidamente em certas ocasiões, nenhuma das duas coisas dá saúde por si só. A magia, concedo, surge quando, na jigajoga da estupidez, abrimos a mente para terrenos mais ebulientes. Nem uma pitada do meu tempo, cogita o ilustre leitor, se é para não inculcar sexo na prosa. Aí, continua o leitor, decide-se acerca do divino e do humano. Vou ser sincero convosco: não me sinto inspirado de molde a dar uma pincelada à altura do tema. Seria espantoso se me conseguisse calar e levar as minhas palavras para o fundo do oceano e nunca mais regressasse. Apesar de merecer esse menosprezo da vossa parte, a minha posição não se equipara à vossa. Sinto um prazer macabro ao ler uma pessoa que tenta manter-se no fio do interesse sem recorrer às magias da cópula. É tempo de eu me acercar com unhas e dentes da monotonia. Ora aí está uma frase que pode funcionar como remédio para as insónias. Não estou a conhecer-te, exclamará o freguês habitual do blog. Veja-se o trabalho em que me fui meter com a minha necessidade de fugir aos temas com provas dadas. Mamas, uma só palavra, terá mais peso nesta prosa do que mil palavras minhas. Estarei a prestar-vos um favor enorme e de nenhum outro modo poderia auxiliar-vos tão vantajosamente. Há mundo para além do sexo.
Eu poderia encontrar uma pontinha de argumentação e expô-la com grandiloquência durante milhares de linhas, mesclando céu e inferno, frio e calor, intelecto e instinto, todavia mamas.
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