Adúltero.
Um homem que, apesar do casamento, não desistiu de encontrar a felicidade.
A vizinha é semelhante à actriz. Mete-se artisticamente na vida das outras pessoas.
Admitir os erros, os nossos, é muito nobre — professam alguns.
Não pretendo contestar tão magno raciocínio, porém, para mim, não me serve. Não faria mais nada a vida toda.
Homem crente. Definição.
Alguém com poucos conhecimentos de acústica. No entender dele, a divindade escutará melhor as suas preces se estiver de joelhos.
Sou a ideia de um gato. Subi à minha árvore genealógica e agora não consigo descer.
Redes sociais.
Uma mescla de recreio e tortura com ênfase para o primeiro.
Zebedeu, modelo, descobriu que gostava de ser o centro das desatenções.
Podemos antagonizar os canibais, todavia não podemos criticar um aspecto: a sua relação calorosa com os forasteiros. Enfim, fazem falta mais canibais na política internacional.
A influencer criou conta no twitter. Segundo fontes próximas, tinha um desejo irreprimível de passar por besta. Alcançou o seu objectivo nos primeiros minutos, uma verdadeira inspiração.
Casa.
Estrutura que nos protege mediocremente contra os perigos do mundo.
Furacão.
Quando a natureza, inspirada em estórias de catraios, se arma em lobo mau.
Ironia das ironias: seres não-binários num mundo cada vez mais binário, o virtual.
O humor é a sala de convívio partilhada pela poesia e pelo lugar-comum.
O cavaleiro mais rico do mundo tem, provavelmente, o maior guarda-roupa de sempre. Convenhamos, as armaduras ocupam muito espaço.
Desprovido de sonhos: eis o nosso homem. Vê em cada precipício uma oportunidade de desfecho. O que, de algum modo, o reconforta. Esta não é para rir, é para fazer pensar.
Velho.
Ser encarquilhado, semelhante a um fruto seco, vulgarmente sentado, devotado a expressar a sua opinião. O guardião da liberdade de expressão.
"E o caralho" é o etc. de pessoas vividas.
Sexo.
Ritual mágico segundo o qual a mentira dá frutos.
Comediante anónimo.
Criatura de importância reduzida que só pode ser encontrada em três situações: 1) a escrever piadas, 2) a pensar no suicídio, 3) a fazer coisas estúpidas na internet, a saber: escrever piadas ao vivo na twitch.
O passado é odiado por muitos, mas adorado por melancólicos e fotografias.
Relação saudável é o compromisso no qual tanto o homem como a mulher falam abertamente do fim. Seja o fim de que natureza for. Os nutricionistas alegam tratar-se de uma ficção.
Se me vejo capaz de garatujar uma bela piada sobre inércia? Sim, vejo-me, porém não me ia levar muito longe.
Erecção. Um filme.
O Regresso do Rei.
A vantagem de ter um amante contorcionista é que, se escutares o teu marido a chegar a casa, podes pô-lo na cona.
Com o aumento das rendas na habitação prevejo que por volta de 2060 os portugueses serão contorcionistas a dividir despesas no porta-luvas de um Ford Fiesta.
Ficcionista.
Em princípio, qualquer homem capaz de engendrar cenários hipotéticos quando perto de uma mulher. De modo mais maneirinho, o ficcionista é um artista de braguilha nervosa.
Tarólogo.
Tipo que, ao contrário do treinador de bancada, decidiu começar a cobrar pelos seus palpites.
Jornalista.
Sujeito a quem cabe averiguar se a galinha da vizinha é realmente melhor que a minha.
Árvore genealógica.
A única árvore cuja fruta está perpetuamente condenada.
O telemóvel é um instrumento de tortura com o qual matamos o tempo. Segundo sei, algoz e vítima fundem-se no mesmo pacóvio sorridente.
A vida é como esta frase — não tem piada.
Humor contemporâneo. Volta e meia fico corado ao pronunciar esta expressão. Os motivos, esses, são mais que muitos, e todos eles vexatórios. Optei por abdicar da graça, o humor ofende.
O consumidor de muletas linguísticas é, basicamente, tipo, imaginem, uma espécie de gago sofisticado. Mas ya.
O palhaço mudou de ramo, é hoje empreendedor. Ironicamente, o negócio das flores de plástico floresceu.
Felicidade.
Demência temporária rapidamente curada com uma ida ao twitter.
Não fosse o palhaço e hoje não estaria aqui. O riso salva, comunicou-me uma ninfomaníaca.
Se o pénis é o palhaço, abre as pernas: eu preciso de ensaiar.
Ano.
Período em que é provável encontrares-me triste. Fora isso, a minha vida é uma folia contagiante.
Fui para o desemprego e hoje estou separado do meu pénis.
O meu palhaço arranjou trabalho no circo. Aproveitei para vender os colhões e hoje sou humorista activista.
Ansiedade é uma doença provocada quando és exposto ao teu próprio fracasso. Calma, falhado, a vida são dois dias.
Ano.
Ardil criado por um tipo que pretendia escoar agendas.
Político.
Aquele que, tal como o larápio, faz conta com o nosso dinheiro.
Encontro amoroso.
Cerimónia que, em correndo bem, é o preâmbulo de um bom entendimento. Sexo, para os mais distraídos. Problemas, para os mais maduros.
Humorista.
Homem familiarizado com o mito de Sísifo — o riso simboliza a saída do Inferno.
Comediante.
Aquele que, um pouco como o funâmbulo, está constantemente entre o precipício e a glória.
A primeira coisa que penso ao acordar: "Há 36 anos neste trono de papalvo e ainda não há sucessor à vista".
Para ser rico, o comediante precisa de viajar para Itália. Talvez assim aprenda a trabalhar com as massas.
Intelectual.
Um sujeito que se abstém de consumir jornais de baixo quilate, televisão e raramente navega na internet com o fito de perder tempo. Um primitivo, portanto.
Estou há tanto tempo sem fazer sexo que, em algumas partes do mundo, já sou visto como santo.
Notícia.
Naco de palavras que, independentemente da sua natureza, pode ser comentado com "isto é tudo uma cambada de ladrões".
Universidade.
Bordel onde os clientes são fodidos com a cabeça enterrada nos livros.
Erudito.
Indivíduo expedito em encontrar a via mais enfadonha para explicar algo que na boca de outra pessoa seria entusiasmante.
Acéfalo.
Certamente grande parte das pessoas que conheces fazem parte deste clube. Afortunadamente, não é preciso pagar cotas para ser sócio.
Decote.
Engodo próprio para pescar besugo.
Botânico é um horticultor que olha com cara de parvo para as plantas.
Sinceridade.
Qualidade que deve ser praticada em silêncio ou num sítio de segurança máxima. Se puderem, evitem-na. Até hoje não há provas concludentes que a sinceridade traga benefícios a quem a pratica. Excepto aos postiços humoristas da genuinidade.
Conforto.
Quando comparado com o metro, o cemitério é uma boa opção: só tem lugares deitados.
Tímido.
Tomate de estufa — amadurece repentinamente.
Tal como o puto mimado, o canibal é muito esquisito: só come um tipo de carne.
Flauta.
Na boca de uma criança, uma arma.
Dica: se só retiras prazer na comida, nunca vás ao médico.
O influencer retirou poder ao médico. Hoje é ele que nos diz o que devemos comer.
Alegria.
Estado de espírito originado pela contemplação do nosso extrato bancário. No decurso de um sonho.
Politicamente correcto.
Seita fundamentalista que tenciona fazer do mundo um sítio melhor — aliás como todos os radicais —, mais livre, silenciando quem a contradiz; por oposição ao humorista, que, além de sevandija, quer animar o mundo falando das coisas que destroem o mundo.
Indignação.
Sarrafusca amiúde sem contacto na qual a inócua bala foi substituída pelo nefasto impropério descabido.
Couve.
Serve de alimento a uma caterva de insectos e moluscos e, em última instância, em não havendo alternativa, a mim.
Inferno.
Local às vezes ilusório ou ideia durante a qual tens o privilégio de contemplar (nos piores momentos) o teu futuro, o qual te dá força e inspiração para continuar a destruir a tua vida.
Selva.
Sítio onde as presas não podem descansar um momento.
Concordar.
Sucumbir à opinião dos outros quando a nossa figura de parvo se torna indisfarçável.
Pai Natal no shopping.
A única altura do ano em que as pessoas fazem filas para ver um velho.
O historiador versado na guerra de Tróia deu conta que a História se repete quando recebeu o salário pela porta do cavalo. Interpretações posteriores lêem salário de outra forma. Uns vêem nele navalhada, outros, utopia.
Os liliputianos admiram a ideia de um pónei de Tróia.
Sem favores por receber, Arlindo não teve outro remédio senão vender o cu na candonga. Segundo as palavras do comprador, uma pechincha. Hoje podemos ver o cu de Arlindo em cima da telefonia de Ambrósio Antunes, reformado em Alfornelos.
Em virtude do aumento da oferta no tocante ao cus, Marisa Márcia teve o seu futuro hipotecado. Marisa é apenas um caso entre milhões de uma geração cujo cu não tem valor para o mercado de trabalho.
Devotada a pronunciar-se sobre tudo o que dá azo a indignações, Márcia deu expose a Jesus Cristo aquando da pergunta do padre: "Casa com este chavaleco?"
Inspirado em Boris Vian, Artur, homem devoto ao salpicão e caranguejo nos tempos livres, gastava as tardes a pronunciar-se sobre a espuma dos dias. Postumamente, as crónicas — à falta de termo adequado para designar o talento de Artur — foram reunidas num canhenho chamado as Crónicas do Epiléptico.
Erecção.
Comemoração através da qual o homem demonstra com uma sinceridade ímpar o seu apreço pela carne.
O fazedor de minetes morreu aos 37 anos. Segundo consta, a humidade esfrangalhou-lhe o sistema imunitário. No dia do enterro, as mulheres choraram e gemeram em sua honra.
Homem.
Talhante incompreendido. Tal como o canónico, sabe dar valor à carne.
Careço de saúde para tomar posições. O peso de tomar uma decisão dá-me cabo das costas.
De dia contorcionista, homem das mil posições, à tarde, simpatizante do Chega.
Gajo porreiro. Definição.
Aproximadamente, um tipo que partilha das nossas qualidades.
Ateu: Juro por aquele que nunca existiu.
Um desvio ao que seria suposto, por vezes a comédia é apenas isso, comunicou-me um encarregado de obras.
Qual é a diferença entre um comediante contemporâneo e um pisa-papéis? O pisa-papéis é toleravelmente inócuo enquanto o comediante é insuportavelmente inócuo.
Observando o mundo, percebemos que os grupos contrários se perseguem. Para quando uma perseguição sem tréguas aos feios por parte das boazonas? É uma questão puramente académica.
Mundo. Definição.
Background para selfies e quejandos.
Em correndo bem, seguidor é um stalker que nos engorda o ego.
Razão.
Um engenhoso artifício criado pelo Homem a fim de nos dar a sensação de que percebemos minimamente o que nos rodeia.
A actriz pornográfica confidenciou-me que as influencers mostram demasiado a sua vida. Segundo ela, um degredo.
O vizinho suicidou-se. Segundo fontes sensivelmente seguras, pudemos apurar que, ao ver-se destronado pelo indignado do twitter, não aguentou. Ao pé deste, o vizinho parecia um amador na arte de meter o bedelho.
Indignação é uma arte praticada um pouco por todo o lado, salvo no coração de quem ama. Estas foram as últimas palavras do poeta, o qual morreu engasgado com um rouxinol atravessado na garganta.
Universidade.
Local onde o arrogante se torna mestre no seu ofício.
Se a vida é um filme de acção, o seguidor é uma espécie de duplo para as cenas difíceis.
Insulto.
Uma arte milenar praticada nos quatro cantos do mundo, com enfoque especial nas estradas. Há quem diga que, antes dos romanos, o insulto andava pelas ruas da amargura.
Bebedeira é a magia que rasga os biombos da educação com impropérios. É uma frase bonita. Se os activistas podem fazer comédia enfadonha, também tenho direito.
Filme erótico.
Documentário onde se exibe a prática do afogamento paulatino do ganso.
O primeiro homem romântico.
O tipo que inventou os eufemismos de foder.
Depressivo maneta. Definição do abutre.
Um tipo com jeito para fazer de morto.
Por um lado não me sinto perdido, por outro, não vou a lado nenhum.
Grosso modo, continuo vivo, pensou o homem deprimido ao olhar para o nabo.