Roberto Gamito
04.12.22
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Roberto Gamito
04.12.22
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Roberto Gamito
06.08.22
Incapaz de arquitectar uma crónica ardilosa que possa ser vindimada com gosto pelas pupilas dos vindouros, prenhe de altos e baixos frutíferos aptos a entusiasmar até o mais exigente leitor, criatura capaz de espremer o rouxinol com o fito de despertar o que se acoita nas reticências, resta-me — oxalá as forças não me deixem a patinar neste lago siberiano da escrita onde, círculo após círculo, engrandeço a minha prestação diante dos júris do ridículo — esfrangalhar a mão contra as rochas do quotidiano à espera que o sangue encapelado desse embate me ofereça umas míseras linhas. A vida, supondo que isto não é um sonho, ou um holograma ou uma história engendrada por um deus com pouco que fazer, é pródiga em enganos, fértil em escaramuças e, em havendo tempo para procurar, poiso predilecto de insignificantes pepitas, nomeadamente paixão, amor e banquetes de fazer brilhar o olho ao mais criterioso glutão. Em jeito de súmula, a vida acontece à revelia da nossa vontade.
O bêbedo olha para mim e eu retribuo o olhar e ficamos assim, sem deixas, como dois palermas sem guião. O que não abona muito em favor quer de um, quer de outro. No cume da minha ingenuidade, quase acreditara ter encontrado a nascente da inspiração. Equivoquei-me, é um bêbedo raro, daqueles que não partilham nem por nada as suas histórias e teorias. Assim sendo, lá terei de continuar sem o milho da inspiração terrena, enfim, sou tomado de incertezas quanto aos fados desta crónica. Prossigo, portanto, de mão vazia e a tremelicar.
À minha frente, com uma camisa cujas cores deviam dar prisão sem direito a julgamento, um homem que, se descontarmos os poucos cabelos, que se exibem na tola do animal como um tufo humilde num deserto, é careca. A criatura a que muitos chamam homem é acompanhado por uma mulher que dá ares de esposa, sei-o pela forma severa como repreende o marido, a eterna criança a necessitar de chibatada. A mulher — juro-vos não estar a inventar para fins de comédia — possui uma camisa igual à do marido. Não me perguntem como é que ainda não se criminalizou isso. Uma pessoa inocente, vítima insofismável, olha para esse cenário desconcertantemente garrido e apanha um trauma que o acompanhará até à cova. Até digo mais, sou dotado de um conhecimento enciclopédico no tocante ao gostinho que as mulheres têm em fazer com que os homens passem por parvos, como se fosse uma tarefa que exigisse grande esforço, daí que esteja em condições de afirmar, embora o negue se for confrontado por alguma feminista, que a mulher obrigou o homem a fazê-lo. Até acrescentaria: a mulher detesta a camisa. No fundo, o que a mulher está a declarar com este comportamento é: vejam, casei com um paspalho, consigo vesti-lo com a camisa mais ridícula de todas, mais, vestimo-nos como se fôssemos gémeos carrancudos e ele nem pia. Contemplem o poder da vagina! Um aviso claro às outras mulheres. Vejam, este espécime está totalmente domesticado. Ao depararem com este ser agrilhoado, as mulheres dirão aos maridos: estás como queres, mas isso vai mudar, não me casei contigo para andares aí como se fosses um animal selvagem. Anda comigo ao shopping, vamos comprar as camisas mais medonhas que encontrarmos. Vai-te fazer bem ao ego, murmura a mulher com um sorriso de orelha a orelha.
Roberto Gamito
04.08.22
Não obstante os dias esburacados pelas traças da memória, dias cujas temperaturas oscilam entre o fresco e o calor vulcânico, os quais são termos muito derreados do ponto de vista do uso quotidiano, e, como se não bastasse, que as coisas más possuem sempre lábia para se fazer acompanhar dos parceiros mais singulares, inadequados do ponto de vista científico, o país lá vai andando a cavalo, qual mongol paciente e figurante no massacre, numa placa tectónica, à deriva, agarrado à bóia da História, ao sabor do vento, essa mão calejada e etérea que nos salga como lágrimas, mais para lá do que para cá, uma vez que é para a morte que mundo e homem se encaminham, vogando qual jangada de pedra, para piscar o olhinho a Saramago, nadando amadoramente segundo teorias de uns e de outros, as quais aprendemos custosamente na escola ou na vida, supondo distinguíveis os dois, digamos, estabelecimentos. Movemo-nos sem alarde nem megafones, com passadas miúdas e quem sabe decididas, quase imperceptíveis, passeamo-nos por cima das brasas, o manto, para surripiar um termo da geologia, como se o país fosse um grande faquir patrulhando enigmaticamente a superfície do inferno sem cuspir uma palavra, de olhos fechados, batendo uma e outra vez com a cabeça na porta fechada do paraíso. Andar por cima do inferno já é uma proeza superior, outros que a comentem e que a interpretem, quando deixarem de se sentir maravilhados pela pequena façanha de Jesus, o que caminhou por cima das águas, pensará o país. Mesmo que falássemos, mesmo que fizéssemos uso do grito, ninguém nos ouviria. A maldição de Babel atingiu o seu cume, o seu fim: cada homem fala uma língua diferente. A comunicação é agora impossível ou sempre o foi; seja como for, actualmente, carecemos de dúvidas, e é por isso que a diplomacia e os almoços de convívio são tão urgentes. Ao menos mantemos a boca ocupada entre pitéus e beijinhos. À falta de amor ou poesia para o cantar, é tudo o que temos neste momento.
A vida é sofrimento, é andar em cima de brasas, e com o tempo, em calhando encontrar o caroço da experiência, é aprender a tornar o processo mais suportável e tirar partido disso. Construí a minha vida em cima das brasas, diria o homem comum, se não lhe tivessem surripiado a voz. Não falamos nada daquilo que queríamos falar. Somos aquele louco da anedota iraniana que, quando alguém lhe pergunta a razão do seu silêncio, riposta “Não vejo ninguém que possa dar-me resposta”. Não me venham com histórias, sejam elas maiúsculas ou minúsculas ou mesmo sem h. Os hospícios fecharam um pouco por todo o mundo. Numa primeira leitura, poderíamos ler levados a pensar que o número de loucos diminuiu grandemente nos últimos anos. Num olhar mais atento, que nem precisa ser dos melhores, um olhar de fato de treino, um olhar daqueles que usamos em casa, percebemos que, ao contrário dos hospícios, as redes sociais são sítios onde os malucos podem gritar sempre que lhes apetece. Convém relembrar que isso lhes era vedado no manicómio. Havia uma duração a partir da qual o grito tinha de ser abolido, seja por injecções, cacetada, electrochoques ou por outras formas que o homem lá foi arranjando, ao longo dos séculos, para lidar com o outro-mor, o louco. Os loucos, como os homens ditos normais, supondo que esses não foram inventados por uma deidade com pouco que fazer com o fito de tapar um buraco num poema já esquecido, procuram o melhor para a sua vida. Não os consigo condenar.
Roberto Gamito
31.07.22
Túnel de Vento é simultaneamente um podcast de comédia e um erro.
Há improviso, humor, lamirés sobre literatura e poesia e, de longe em longe, javardice de elevado quilate.
De Roberto Gamito e suas vozes.
Uma hora e quinze de cabeça faminta.
Apeadeiros da conversa:
.Os gafanhotos são vândalos.
.Reflexão sobre os golfinhos.
.O lagarto bombeiro.
.O cão, o actual melhor amigo do Homem.
.Cavalo, o antigo melhor amigo do Homem.
.Humorista Mongol.
.Os cavalos não existem.
.Golfinho, o futuro melhor amigo do Homem.
.O bacalhau inspirou-se no ser humano.
.Se Deus quiser.
.Deus te abençoe.
.Meteorologia antes da invenção do termómetro.
.Repensar a nossa relação com as formigas.
.Meditação sobre a prisão de ventre.
.Fisioterapia badalhoca.
.Sumo de maçã.
.Saco reutilizável e cão.
.A minha vida foi um grande erro.
.Reflexões sobre o artista.
.Frases e citações soltas.
.Não sei fazer nada.
.Ensacar e o olhar reprovador.
.Adultério na Idade Média.
.Temperança.
.“Foi apanhado a beber”.
.Bêbedo activista numa operação stop.
.E mais.
Podem ouvi-lo no Spotify ou em qualquer plataforma de podcasts.
Roberto Gamito
21.07.22
Se me proibissem o uso de palavrões, seria incapaz de exprimir com pertinência a tempestade que me povoa o cérebro quando observo de olhos esbugalhados e de boca escancarada as matilhas contemporâneas a apedrejar infatigavelmente o comediante, esse saco de pancada universal. No entanto, urge vestir a bata da seriedade, não confundir com a do médico, que esse é um burlão, diz que trata da saúde às pessoas mas raramente distribui sopapos aos pacientes, e munirmo-nos, não de um bisturi, mas de um facalhão apropriado para a dissecação destes temas comichosos.
A relação actual das massas com o humorista é prenhe quer em algazarra, quer em sentido. É como se fosse uma bulha ininterrupta: há sempre alguém a apanhar, sempre alguém a gritar e, como não podia deixar de ser num evento de luta destas dimensões, sempre alguém a comentar. Desconfio que podemos encontrar o Homem do século XXI tal como ele é, desnudo e mínimo, se aprofundarmos a compreensão desses fenómenos.
Segue-se o inventário compacto das minhas comichões.
1) Somos endeusados pela indignação.
A partir do momento que faz a sua apreciação negativa à laracha, o ser humano típico das redes sociais é impelido por uma necessidade indomável de verbalizar a sua reacção, dado que, neste século, não há nada que deva permanecer na esfera privada. Seria estúpido da parte do indignado sentir-se furioso e não tentar lucrar com a situação, seja esse lucro de pendor monetário ou de pendor reputacional.
Quando possuído pelo espírito da indignação, o Homem salivante sente-se legitimado para tudo e mais alguma coisa. A chalaça não me caiu no goto, logo sou estúpido (segundo o meu humilde parecer de observador autodidacta), logo vou linchar o déspota da laracha. A piada e principalmente o autor da piada levam no lombo e, reparem como isto fica perverso, a vítima nem sequer tem o direito de se queixar da pancada. Caso se queixe, é novamente alvo de críticas. O chamado mamar e calar. É preciso frisar a tinta fluorescente que estes bárbaros eram, até há minutos, acólitos da empatia e segredavam entre pares que o mundo precisa é de amor, compreensão e diálogo. Lá foi a máscara de boa pessoa para o galheiro.
2) Julgar um padrão graças a um ponto.
Este século é fértil em estupidez e em contradições. As pessoas não se inibem de comunicar-nos que não gostam de ser julgadas são as primeiras a julgar, não uma, mas milhares se estas forem contra a sua opinião. Se não acho graça, ninguém pode achar graça. Aliás se acharem graça são todos doentes, nojentos e outros apodos que ficam bem no currículo de qualquer canalha.
Embora seja um espectáculo deveras entusiasmante julgar alguém à queima-roupa por um acto, neste caso mínimo, a apreciação de uma piada, não posso deixar de dizer que é um comportamento enervantemente pueril. Ninguém consegue julgar uma pessoa com base em algo tão insignificante. Para percebermos a tendência necessitamos de vários pontos e de muitas experiências. Estes meninos raivosos, os quais se dizem amigos da ciência, comportam-se como se fossem profetas. Só eles sabem a verdade.
Como diria o outro, o eclipse da razão será a nossa desgraça.
Mas vamos dar uns minutinhos de folga ao cérebro e mudarmo-nos para o seguinte cenário. Eles têm razão: é possível julgar uma pessoa com base numa reacção a uma piada. Imaginem o ganho civilizacional que seria. O suspeito seria julgado com base numa piada dita ofensiva. O juiz contava uma laracha de humor negro; caso o tipo esboçasse um sorriso, era condenado, caso contrário, seria inocentado. Só tinha um inconveniente: o juiz seria descartável, só dava para um julgamento.
3) Eu é que sei o que é humor.
Em tempos idos, o Homem chegou a um consenso de que o humor, tal como as restantes artes, tende para a subjectividade. Não neste século. O mal dos viciados pelo literal é que são cegos para a profundidade. Só existe o que eles vêem; infelizmente não vão além da superfície. Resultado: os outros, aqueles que mergulham em apneia nas coisas, são apelidados de criminosos ou coisas que tais. Em suma, cegos tentam-nos, por todos os meios, impingir a sua visão.
4) O humor actual transformou-se numa troca de galhardetes.
Como estamos a viver numa época em que o narcisismo dita os nossos comportamentos, tudo o que não vai no sentido do elogio, de nos afagar o ego, é visto como nocivo. Daí que a designação do que é considerado ofensivo cresça de dia para dia. Se a tendência da indignação continuar a arrebanhar temas, chegaremos a um ponto em que a comédia estará restringida ao elogio claro ao outro. Os risos hão-de surgir, mas surgirão como simulacros. Será um riso tipicamente de rico quando, numa festa em que pode lucrar de algum modo, o Homem soltar uma gargalhada falsa a fim de criar uma noção fictícia de proximidade.
5) Lá estão vocês com a liberdade de expressão.
Uma frase muitas vezes atirada aquando o rescaldo de uma piada.
Aos olhos actuais, a liberdade de expressão tornou-se um luxo. Por um lado não há censura, como tanto gostam de propalar os amigos do politicamente correcto, por outro, não se pode sequer mencionar a liberdade expressão. Ela existe. Quem é que existe? Não se pode dizer. Uma espécie de Voldemort.
6) Quem se ri é doente.
Usando um raciocínio análogo ao do tribunal e do juiz, seria a morte dos diagnósticos médicos. Não sabemos se estamos doentes, então pedimos a alguém que nos conte uma piada. Se nos rirmos, estamos doentes, se não rirmos, podemos dormir descansados. E um acrescento de graça: o homem sem posses foi possuído pelo milenar comportamento do rico, o qual sentencia: se não te ris és dos nossos, se te ris és tantã.
7) A desproporção entre a piada e a reacção.
A piada, por muito má que seja, é uma piada. E é aqui que o faroleiro incumbido de ajudar os barcos da virtude dá um tiro no pé. Ao reagir à piada que detesta estupidamente, deseja a morte ao comediante. É como adquirir uma bomba atómica para matar uma mosca.
Uma última palavra aos agrimensores da piada: amor. Desejo-vos tudo de bom. Não estou a ser irónico. Não desejo mal a nenhum de vocês, nem à vossa família, nem tão-pouco que os vossos cães morram da forma mais cruel possível. Não desejo isso a ninguém, mesmo que sejam indignados profissionais.
Roberto Gamito
13.07.22
Na escrita, atiro carne podre aos vindouros. Formulei, para uso caseiro, tempestades e incêndios, vandalizei máscaras e escoei venenos.
Numa das minhas mãos habitam um sem-número de roteiros de desorientação. Vasculhei dentro de mim — reconheço hoje o equívoco — uma família de mapas novinhos em folha.
Os caminhos alimentam-se de passos, a jornada cresce com o nosso desnorte.
A mulher suspira, como é usual em muitas histórias. Sabe-se pouco a respeito das entrelinhas da respiração aflita. O talento da respiração é fintar repetidas vezes a morte.
A senhora de noventa anos descobre que a filha tem Alzheimer. Em minutos perdem-se todas as certezas da última década.
Cabisbaixo, o meu rosto despenha-se do céu, qual Lúcifer, nas poças de água.
Rasto cifrado para ludibriar hienas e perdigueiros, passos tapados por folhas, apeadeiros em chamas. Ulisses anónimos com a água das lágrimas a dar-lhes pelo pescoço. A vida a centímetros da morte.
Toda a gente acorda de manhã como que vinda de um milagre, hesitante, um pouco espantada com mais um dia. Não era esta a imagem que tínhamos do inferno.
Um ponto. Não há lugar para os pés nem para as mãos, nem tão-pouco para deuses. Encolhemo-nos até ao esquecimento. Novamente nesse ponto primevo, o antes-de-tudo-o-que-conhecemos-e-ignoramos.
As coisas libertam-se do seu nome emperrado graças ao grito.
Vencidos os homens, sobram umas migalhas. As sementes preparam uma rebelião há séculos no rés-do-chão do sangue. Até lá sobram-nos as histórias. As línguas despem-se de palavras ao rés do rosto amado. A mão percorre ao de leve o rosto como a brisa a cevada. O seu cheiro invade os campos da minha imaginação.
A sua verticalidade é postiça, porque teme soltar o animal na escrita. Este alarde a que não falta fanatismo actua como um holofote, elevando o espantalho a celebridade.
Amor, Deus, morte. A respiração de civilizações inteiras ecoa dentro de certas palavras.
O falcão olha de cima o labirinto do Homem e confunde-nos com formigas. Agora vamos por aqui: engaiolar na mão a recém-cortada cauda da osga e ver na sua movimentação vã a humanidade.
A morte, assim como Deus e o amor, é uma semente, está no meio de nós. Envelhecemos por aí, à procura do perdão.
Roberto Gamito
08.07.22
Roberto Gamito
05.07.22
Roberto Gamito
04.07.22
Roberto Gamito
04.07.22
Desloquei-me da sala até ao frigorífico. Estava bom tempo; lá fora chovia. Levei apenas uma muda de roupa, a que tinha no corpo. Umas calças de pijama com uns flocos de neve, oferecido pela minha avó, e um casaco velho da nike vermelho a dar as últimas, nada de muito vistoso, se excluirmos o plano do ridículo. Viajei como um indigente. Queria evitar os olhares curiosos dos autóctones, leia-se família: só o que me faltava era ser assaltado com perguntas a caminho do frigorífico. A viagem foi rápida mas sentida, não deu para tirar fotografias, nem para actualizar redes sociais, nem para ouvir a nossa música preferida que escutamos somente quando vamos de viagem. Tentei viajar o mais incognitamente possível. Detive-me numa estação de serviço apenas — a minha casa de banho. Fiz aquilo que as pessoas normais fazem nas casas de banho. Aliviado, rumei em direcção ao frigorífico. Era tal qual a imagem que eu guardara na memória. Talvez um pouco menos brilhante, com uma mancha de ferrugem aqui e ali, que os fotógrafos de merdas a cair aos pedaços achariam engraçado fotografar a preto e branco. No centro da cozinha, uma mesa encimada por uma fruteira, a escassos metros o frigorífico. Fitei a fruteira, só fruta. Afaguei um pêssego. Não, não era fruta que me apetecia. Respirei fundo e abri o frigorífico. É sempre uma surpresa. Em verdade, regresso sempre ao frigorífico, é a minha Paris. Já fui feliz, já fui triste. Pilhei-o segundo os ditames da minha fome. Dois rissóis, um de camarão e outro de leitão, este último com uma ferida por cicatrizar, com sangue de rissol a escorrer-lhe da dita, um iogurte líquido com dois sabores, caramba, não há a porra de um iogurte líquido com apenas um sabor, uma linguiça, um naco de presunto, um trecho de queijo... Um bocado de repolho — não, isso ficou. Eu sei que pode parecer exagerado, mas é melhor prevenir, evitamos viagens desnecessárias. Era tempo de voltar. Fui com o saque até à sala. O meu irmão olhou-me fixamente e disse: “Trouxeste alguma coisa para mim?” Ao que eu respondi "Não trouxe lembranças para ninguém.” E enchi o bandulho.
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