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Fino Recorte

Havia uma frase catita mas que, por razões de força maior, não pôde comparecer. Faz de conta que isto é um blog de comédia.

Fino Recorte

Havia uma frase catita mas que, por razões de força maior, não pôde comparecer. Faz de conta que isto é um blog de comédia.


Roberto Gamito

21.07.22

Se me proibissem o uso de palavrões, seria incapaz de exprimir com pertinência a tempestade que me povoa o cérebro quando observo de olhos esbugalhados e de boca escancarada as matilhas contemporâneas a apedrejar infatigavelmente o comediante, esse saco de pancada universal. No entanto, urge vestir a bata da seriedade, não confundir com a do médico, que esse é um burlão, diz que trata da saúde às pessoas mas raramente distribui sopapos aos pacientes, e munirmo-nos, não de um bisturi, mas de um facalhão apropriado para a dissecação destes temas comichosos.

A relação actual das massas com o humorista é prenhe quer em algazarra, quer em sentido. É como se fosse uma bulha ininterrupta: há sempre alguém a apanhar, sempre alguém a gritar e, como não podia deixar de ser num evento de luta destas dimensões, sempre alguém a comentar. Desconfio que podemos encontrar o Homem do século XXI tal como ele é, desnudo e mínimo, se aprofundarmos a compreensão desses fenómenos.

Segue-se o inventário compacto das minhas comichões.

1) Somos endeusados pela indignação.
A partir do momento que faz a sua apreciação negativa à laracha, o ser humano típico das redes sociais é impelido por uma necessidade indomável de verbalizar a sua reacção, dado que, neste século, não há nada que deva permanecer na esfera privada. Seria estúpido da parte do indignado sentir-se furioso e não tentar lucrar com a situação, seja esse lucro de pendor monetário ou de pendor reputacional.

Quando possuído pelo espírito da indignação, o Homem salivante sente-se legitimado para tudo e mais alguma coisa. A chalaça não me caiu no goto, logo sou estúpido (segundo o meu humilde parecer de observador autodidacta), logo vou linchar o déspota da laracha. A piada e principalmente o autor da piada levam no lombo e, reparem como isto fica perverso, a vítima nem sequer tem o direito de se queixar da pancada. Caso se queixe, é novamente alvo de críticas. O chamado mamar e calar. É preciso frisar a tinta fluorescente que estes bárbaros eram, até há minutos, acólitos da empatia e segredavam entre pares que o mundo precisa é de amor, compreensão e diálogo. Lá foi a máscara de boa pessoa para o galheiro.

2) Julgar um padrão graças a um ponto.
Este século é fértil em estupidez e em contradições. As pessoas não se inibem de comunicar-nos que não gostam de ser julgadas são as primeiras a julgar, não uma, mas milhares se estas forem contra a sua opinião. Se não acho graça, ninguém pode achar graça. Aliás se acharem graça são todos doentes, nojentos e outros apodos que ficam bem no currículo de qualquer canalha.

Embora seja um espectáculo deveras entusiasmante julgar alguém à queima-roupa por um acto, neste caso mínimo, a apreciação de uma piada, não posso deixar de dizer que é um comportamento enervantemente pueril. Ninguém consegue julgar uma pessoa com base em algo tão insignificante. Para percebermos a tendência necessitamos de vários pontos e de muitas experiências. Estes meninos raivosos, os quais se dizem amigos da ciência, comportam-se como se fossem profetas. Só eles sabem a verdade.

Como diria o outro, o eclipse da razão será a nossa desgraça.

Mas vamos dar uns minutinhos de folga ao cérebro e mudarmo-nos para o seguinte cenário. Eles têm razão: é possível julgar uma pessoa com base numa reacção a uma piada. Imaginem o ganho civilizacional que seria. O suspeito seria julgado com base numa piada dita ofensiva. O juiz contava uma laracha de humor negro; caso o tipo esboçasse um sorriso, era condenado, caso contrário, seria inocentado. Só tinha um inconveniente: o juiz seria descartável, só dava para um julgamento.

3) Eu é que sei o que é humor.
Em tempos idos, o Homem chegou a um consenso de que o humor, tal como as restantes artes, tende para a subjectividade. Não neste século. O mal dos viciados pelo literal é que são cegos para a profundidade. Só existe o que eles vêem; infelizmente não vão além da superfície. Resultado: os outros, aqueles que mergulham em apneia nas coisas, são apelidados de criminosos ou coisas que tais. Em suma, cegos tentam-nos, por todos os meios, impingir a sua visão.

4) O humor actual transformou-se numa troca de galhardetes.
Como estamos a viver numa época em que o narcisismo dita os nossos comportamentos, tudo o que não vai no sentido do elogio, de nos afagar o ego, é visto como nocivo. Daí que a designação do que é considerado ofensivo cresça de dia para dia. Se a tendência da indignação continuar a arrebanhar temas, chegaremos a um ponto em que a comédia estará restringida ao elogio claro ao outro. Os risos hão-de surgir, mas surgirão como simulacros. Será um riso tipicamente de rico quando, numa festa em que pode lucrar de algum modo, o Homem soltar uma gargalhada falsa a fim de criar uma noção fictícia de proximidade.

5) Lá estão vocês com a liberdade de expressão.
Uma frase muitas vezes atirada aquando o rescaldo de uma piada.
Aos olhos actuais, a liberdade de expressão tornou-se um luxo. Por um lado não há censura, como tanto gostam de propalar os amigos do politicamente correcto, por outro, não se pode sequer mencionar a liberdade expressão. Ela existe. Quem é que existe? Não se pode dizer. Uma espécie de Voldemort.

6) Quem se ri é doente.
Usando um raciocínio análogo ao do tribunal e do juiz, seria a morte dos diagnósticos médicos. Não sabemos se estamos doentes, então pedimos a alguém que nos conte uma piada. Se nos rirmos, estamos doentes, se não rirmos, podemos dormir descansados. E um acrescento de graça: o homem sem posses foi possuído pelo milenar comportamento do rico, o qual sentencia: se não te ris és dos nossos, se te ris és tantã. 

7) A desproporção entre a piada e a reacção.
A piada, por muito má que seja, é uma piada. E é aqui que o faroleiro incumbido de ajudar os barcos da virtude dá um tiro no pé. Ao reagir à piada que detesta estupidamente, deseja a morte ao comediante. É como adquirir uma bomba atómica para matar uma mosca.

Uma última palavra aos agrimensores da piada: amor. Desejo-vos tudo de bom. Não estou a ser irónico. Não desejo mal a nenhum de vocês, nem à vossa família, nem tão-pouco que os vossos cães morram da forma mais cruel possível. Não desejo isso a ninguém, mesmo que sejam indignados profissionais.

 

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Roberto Gamito

05.07.22

Se não houver laivo de generosidade nos teus actos, principiarás a emular a coreografia de um pequeno tirano. O narcisismo é um viveiro de déspotas em princípio liliputianos, o smartphone um espelho. O espelho, afinado minuto a minuto pelo algoritmo, está sempre lá. Espelho meu, espelho meu, há alguém mais interessante do que eu? Ao contrário do célebre espelho, este não cairá no erro de dizer a verdade.
Estamos todos tão apaixonados pela ideia de que fomos entronizados pelos likes e comentários que não nos apercebemos que, dia após dia, cultivamos uma sociedade de regicidas. A empatia dos novos tempos é a ficção suprema.
A internet é uma corrente ingovernável de versões de uma única biografia oca, na qual todos os episódios não senão simulações, uma tempestade ora subtil, ora escancarada na primeira pessoa. As confissões parecem saídas da cabeça de um opiómano. O padre ou o terapeuta só tem o direito de aquiescer.
Deixas bem-intencionadas resvalam, naturalmente, para o inescapável empoderamento do eu.
Tudo é acerca de ti, um conflito bélico no oriente, uma sonda espacial lançada para o cu de Judas, a morte de alguém mais ou menos célebre, o lançamento de uma engenhoca inédita que na próxima semana ficará obsoleta, uma ideia papagueada sem vigor por este ou aquela marioneta. Sem querer, maquilhas cadáveres e ideias coxas para aumentar o engajamento.
Enterras a morte em maquilhagem até que a morte não se assemelhe a ninguém.
És um incendiário oportunista. Esqueces-te do essencial: o fogo não tem senhor. As faúlhas dessas conversas frutíferas para o teu ego saltam sem que te dês conta para temas inofensivos. O Eu semeia faúlhas em todos os pontos de vista. O Narciso é o agricultor do Apocalipse cheio de boas intenções. Não espanta, o desejo do Eu é a aniquilação. Será isto aquilo que Freud chamou de suicídio inconsciente?
"Lembra-te, pois, de onde caíste e arrepende-te", eis a voz tonitruante vinda do Livro do Apocalipse. Numa sociedade excruciantemente positiva, a queda foi abolida ou mascarada.
Mergulhando no seu reflexo com a botija de oxigénio da gratificação instantânea, o Narciso escreve às escuras propostas para mudar o mundo, recauchutando-as dia sim, dia não consoante o vento mais em voga para que tudo arda sem entraves.
 

Internet, a caudalosa biografia do Eu


Roberto Gamito

05.01.22

Platão era detrator da maquilhagem e da poesia. Unindo os pontos de forma humorística, tudo leva a crer que o menino Platão era contra tudo o que embelezasse a língua e o corpo e só investia numa relação se a mulher se apresentasse nua e, em vez de falar, grunhisse, dado que a palavra maquilha o pensamento humano.

Segundo o pupilo de Sócrates, a beleza é simples, pura, sem misturas, estranha à perversão das cores e a todas as vaidades humanas. E ainda Platão: “procurar embelezar-se através do vestuário é uma prática malfazeja, hipócrita, baixa, servil”.
“Qualquer trapinho te fica bem” é um elogio que pode ir beber a Platão. Olha que há destinos.
Platão, gigante entre os gigantes, sumidade na filosofia ocidental, passou ao lado de uma grande carreira de crítico de, termo da altura, modas bárbaras. Imaginá-lo hoje nas caixas de comentários das fotos de influencers dá-me uma barrigada de boa disposição.

Imaginemo-lo nos dias de hoje a comentar as típicas fotos de influencer no Instagram.

Influencer publica uma foto toda maquilhada.
Platão: Excelsa mulher de peito farto, trata-se de um simulacro perverso que deve ser rejeitado o quanto antes. Tanto as cores como as formas do rosto foram manipuladas pela maquilhagem. Fico à espera de uma foto em que surja sem pós milagrosos nas trombas.

Influencer publica uma foto de soutien.
Platão: Curioso, explorou habilmente a fraqueza da percepção masculina, criando ilusões e revitalizando o rei das terras baixas. Não sei como consegue dormir à noite quando sabe que engana a vista dos ingénuos e perturba o espírito de tão frágeis homens. Faça um favor à humanidade e não especule o tamanho das tetas.

Influencer publica uma foto com grande ênfase no nalguedo.
Platão: Procurar enfatizar as nádegas, tão ao gosto do selvagem, ainda por cima com filtro de Instagram, é uma prática degradante. Acaso o faça, faça-o sem artifícios. Um rabo sem auxílios da maquilhagem e da tecnologia. Um rabo como o seu não necessita disso, é como a luz no seu zénite capaz de fertilizar e encher a cabeça do homem de ideias fecundas. Como sabe, não sou leigo em matéria de rabos. Não me querendo gabar, mas cá vai alho: sou o pontífice máximo do assunto. Não é o homem que escreve estas linhas, mas um estudioso neutro do cu.

Influencer publica uma foto com as tetas de fora.
Platão: Apesar do inegável prestígio do mamaçal, ocultar os mamilos é uma prática condenável, porque priva a mama do seu epicentro. O olho masculino, carente de um ponto de referência, vê-se perdido ao abarcar tamanho decote. A forma como põe os braços, de molde a que as tetas pareçam maiores, apesar de visualmente estimulante para o animal faminto, é altamente desaconselhável. As mamas merecem a verdade.

Influencer publica uma foto em que surge com o cabelo louro.
Platão: Ao contrário de Afrodite que se banhou no rio Escamandro a fim de tingir o cabelo de louro, resultando o título da mais bela das deusas atribuído por Páris, em si não surtiu qualquer efeito: continua feia como uma bota gasta. Não fosse dotada de um rabo olímpico e estaria condenada ao anonimato. Faça o favor de modificar a sua postura na próxima fotografia.

Influencer publica uma foto de jardineiras.
Platão: Apague a foto, essa farpela está a ferir-me as vistas. Os seus adoradores não merecem tão excruciante experiência. Admita o seu erro. Para compensar, contento-me com uma nude na caixa de mensagens. Deleitar-me-ia a descrever minuciosamente as delicadas nuances amiúde ocultadas pelas suas tristes farpelas.
A roupa, minha cara musa, trata-se de uma excentricidade tardia.
E a conversa segue na caixa de mensagens do Instagram.
Influencer: Meu bandalho, és igual aos outros, só me queres ver nua.
Platão: Tenciono ver o teu corpo desnudo, porém, ao contrário dos outros, procuro igualmente a verdade. Seria uma alegria para mim encontrar a verdade no teu corpo ao léu.
Influencer: Não vou cair na tua cantiga.
Platão: Cantigas? Poesia? Isso é que não, vou bloquear-te. Mas primeiro manda a nude.

Platão e a Influencer

 


Roberto Gamito

22.10.21

Rúben Branco, Tertúlia de Mentirosos

Rúben Branco. Humorista e rei do underground.

Deambulámos por uma enormidade de temas, a saber: o conforto e o sentimento uterino, opiniões nas redes sociais, as redes sociais como montra para a hipocrisia, Big Brother, polémicas no twitter, o humorista e a imagem, a morte na arte contemporânea, o comediante português não falha?, cada geração tem os seus interesses, a relação do humorista com as redes sociais.

Rúben Branco nas redes sociais:
https://www.instagram.com/rubenbranco123/

Podem ouvir o episódio aqui ou noutra plataforma de podcast.

 


Roberto Gamito

07.07.21

António Careca levou a cabo uma proeza alto lá com ela. Segundo reza as gordas do jornal, escorraçou com um pontapé bem metido nas nalgas o Caído-Mor, o Senhor Satã, o qual replicou degrau a degrau a sua célebre queda. Escapou por um triz ao elogio do vulgo, o visado acanhava — sempre acanhou — os bajuladores. Os demónios menores caíram-lhe em cima como lobos esfomeados. Em vez de o matar, desfecho que o aliviaria, obrigaram-no, então, a vestir-se com um oleado verde e amarelo, isolando-o cromaticamente do resto do mundo. As redes sociais, blindadas que estão ao pensamento, não souberam como reagir a tal acontecimento. Assim enfarpelado, o homem cumpriu o seu destino de fazer-nos rir.

É uma criatura submissa, entre o homem e o cão, pacata e inofensiva, cuja arte lhe chega, no máximo, para coçar os tomates em dias de palestra. Ao que parece, é insuficiente se o fito for fundar uma vanguarda.

A modéstia impede-me de revelar os maiores cumes entre os estúpidos. Todavia uma coisa vos digo, a competição nunca esteve tão renhida. Não é fácil deixar um legado neste campo.

O árbitro de comportamentos interrompia momentos tensos como se a vida dos outros fosse um filme dirigido por ele. Movido por um fervor religioso, o figurão eclesiástico das redes comunicava às pessoas como deviam viver a sua vida. Ninguém diz nada, esse juiz de meia-tigela é o orgulho do Homem, a menina dos olhos do século XXI. Todos fingem concordar, perpetuando assim a farsa. Mais burros não ficamos, pensavam eles.

O seu nome vem à baila de vez em quando, fazendo o soalho estalar com o sapateado da sua grandeza, é um nome demasiado grande para ser menosprezado pelo círculo de medíocres calejados. Corre o boato que a conversa só é conversa quando o seu nome é chamado ao barulho.

Homens sazonalmente verticais tentam passar por escritores. Estão a braços com uma língua que não é a deles, espremem-na até à última gota, mal dá para um copo, quanto mais para uma obra.

À míngua de espectáculos e demandas dignas de figurar em currículos de heróis, ocupam os dias a apadrinhar guilhotinas. As redes sociais são o lar, como alguém há-de postular um dia, de algozes enfezados. Incapazes de ver sangue, arranjaram um ardil destinado a provocar a morte à distância.

Oh, K., receio bem que o senhor seja demasiado hilariante para este século. Amanhã falamos, primeiro é necessário seduzir o coração do castelo.

À excepção do linchamento digital, somos burocratas até ao tutano. Burocratizamos o coração, o sexo e o mais. A picha e a cona traumatizados, acoitados em cima da pilha de papéis. E que alívio é abrirmos a porta à morte e saltar pela janela do quinto andar.
Os suicidas dariam a vida para poder ver as feições da morte ao perceber a fífia do Homem.
Os génios do século XXI ocupam um lugar muito importante na História, e é extremamente árdua a tarefa de os descrever — são papagaios uns dos outros.

Mais uma corrente literária, mais uma ninhada de papagaios.
À medida que envelhecem, os Homens vêem com mais nitidez o discurso do seu reflexo. Olha como estás acabado, meu animal esfrangalhado, comenta o reflexo alojado no espelho.

Recuso-me a ser ludibriado por uma fatia de nada, por mais apetitosa que se me afigure. Logo que os víveres começarem a ser desmentidos pelos sábios, os suicídios vão subir em flecha.

Esquece a verticalidade, se quiseres prosperar no teu ofício, e é por estas dicas que os aspirantes a homenzinhos de valor vendem a alma ao diabo, agacha-te e reza a tudo o que não te for familiar. Pudesse eu ao menos usar um faca nos dentes — sucessora da rosa no tango —, a fim de fazer boa figura na dança das cadeiras. Regicídio, deicídio, não importa. Fui contratado pelo destino para trabalhar, que é como quem diz, colher cabeças dos arbustos penumbrosos.

Não há ninguém capaz de puxar fogo ao século? Estes anos apinhados de escritores de prosa desdentada é incapaz de deixar marca. Tanta carne à espera de ser mordida.

Se apreciares o meu poema, sou menina de te abrir as pernas. Manjar silábico, digno de um não-sei-das-quantas. A cavalo dado não se lhe olha o dente e ficamos assim, cada um com o seu quinhão. A tão desejada aprovação, emprestar a rata por tuta-e-meia, dar minutos de voo ao vergalho, o costume, réchauffés.

Se pudesse fazer aquilo que quero, e o meu caminho fosse exequível, não restariam deuses nem demónios para contar a História. No entanto, é útil editar o pensamento antes de o verbalizar, enfatizá-lo com prosa hipócrita, elevar o paralítico das artes aos píncaros, tudo comportamentos com provas dadas, os quais fazem com que nós sejamos populares quando rodeados de uma matilha a salivar de aprovação. Para brilhar à mesa não é preciso suar o miolo, basta dizer aquilo que os demais ambicionam ouvir.

Quando cumpridas as várias salvas de elogios, aí sim, podem começar a pavonear-se. A vossa grandeza fictícia entrará sem atrito nessa atmosfera carregada de empáfia. Hipnotizados, os anões julgar-se-ão gigantes. Inimigos, nem vos passa pela cabeça a verdadeira estatura do Homem.

E eis que prossegue o artista nas andas da publicidade, papando elogios qual parasita, saracoteando-se com o pedigree dos iluminados. Atrás dele, uma comitiva de carraças, em cima, uma ou outra pulga.

Mas está tudo mal para ti? Nada disso, sou como uma criança que brinca na praia de pilinha ao léu. Tudo me alegra, tudo capta a minha atenção.

Ninhada de papagaios, Roberto Gamito

 


Roberto Gamito

30.06.21

Foi deplorável ver como as frases mais medrosas se escapuliram à socapa do texto com a chegada dos censores.
Desistiram da pugna, enfiaram-se em pardieiros sem luz nem norte para beberem as suas cervejas inspiradas no sabor do mijo.
Quanto às oportunistas, mais expeditas que as medrosas, partiram, feitas sanguessugas, em busca do seu cu de ouro.

Aquele que admira coisas ficticiamente altas é um estúpido a abater. Eis a razão pela qual me aventurei rumo a mares jamais vindimados, com o mais barrigudo dos respeitos, pondo o oportunista-contorcionista no topo da minha lista, obrigando a vetusta caça grossa a recuar para o papel de figurante.

Enoja-me o hábito de lisonjear e rastejar de todos aqueles que ao pé de um novo holofote de metamorfoseiam em mosquitos. Se, ao resmungarmos numa língua vera a falta de coisa para o coração trincar, aparecesse logo alguém disposto a uma conversa estufada com batatinhas a murro. Em todo o caso, a estatura que o mundo teimava em atribuir-nos, deu-nos muitos e bons loucos.

Éramos sete ou nenhumas pessoas, e acabava aí as semelhanças, a cavaquear sem açaimes com a musa capturada. Como é, filha, vais contribuir para a demanda ou temos de continuar a gritar?

Na ausência de Deus, qualquer candeeiro Lhe faz as vezes. O oportunista apaparica-o com os melhores acepipes que o tempo pode comprar, com vista a uma vida melhor. O lado humano, as células da verticalidade, acotovelam-se no meio das metásteses da servidão até o seu atrofiamento ser completamente irreversível. Se a vida é uma máquina de gerar precipícios, o oportunismo é uma máquina de produzir quadrúpedes sem coração.

Oportunista-contorcionsita, Roberto Gamito

 


Roberto Gamito

15.06.21

Tertúlia de Mentirosos com Catarina Matos.

Tertúlia de Mentirosos Catarina Matos

Catarina Matos. Humorista, cultora da one-liner, cheerleader da vida.

Deambulámos por uma enormidade de temas, a saber: o medo de falar de mais, o medo do ridículo, projectos na gaveta, o mundo encantado do plágio, o produtor de conteúdo e o repetidor, as metamorfoses das redes sociais, a conversa ideal, Steve Martin, síndrome do impostor, a vertigem da velocidade, os subterrâneos da comunicação, guardar resíduos radioactivos, magia e ilusionismo, gerir uma noite de comédia.

Podem ouvir o episódio aqui ou noutra plataforma de podcast.





Roberto Gamito

28.05.21

Chorão polivalente
Uma carpideira da nova escola. Megafone das dores alheias. Consegue, qual adepto ferrenho, ir buscar dores à década de 60 e relatá-la detalhadamente como se fosse hoje. Ao contrário das carpideiras primevas, este ágil chorão é capaz de chorar, qual ser ubíquo, inúmeras mortes em simultâneo. Se gritar fosse um emprego, seria bilionário. Um prodígio no tocante a transformar uma coisa boa numa coisa má. Um alquimista às avessas. Um anti-Midas cujo dom é transfigurar aquilo em que toca — mesmo ouro — em merda. Não há registos de que esta pessoa consiga ser feliz.

Fã ecléctico
Não há nada que esta criatura não elogie. Minto, precisa de ter pelo menos 10 mil seguidores para ser digno de louvor. Compreensível, a História ensinou-nos, mais que uma vez, que não há génios sem seguidores. O filho mais talentoso do lambe-cus. Aperfeiçoou a arte dos seus ancestrais até ao limiar da perfeição. Divide a língua num sem-número de elogios. Para ele, a contradição é uma miragem; a crítica, dispensável.
O sonho dele é passar quinze dias com as celebridades mais famosas do mundo a tirar selfies. Numa palavra, um vampiro paciente.

Plagiador plagiado
Um dos animais mais espectaculares que podemos encontrar nesta fauna. Episodicamente, escreve algo vagamente original. Um em dez mil tweets é da sua autoria. Copia desenfreadamente anónimos e famosos. Tem a lata de, ao acabar de escrever uma piada em 2021, acusar o comediante de o ter plagiado em 1986.
Desligado da realidade; só usa a razão em dias de festa.
Em dias de bebedeira é capaz de garatujar algo como isto: “dou muito valor à originalidade”. Em suma, um filho da puta com obra feita.

Duchamp tardio
Artista excepcionalmente contemporâneo, o qual tira tudo de contexto, a saber: piadas, frases, imagens, suspiros e silêncios, pichas e conas, se for o caso.
Ironicamente, prefere a sanita ao urinol.

Comediante frustrado
Fel em forma de pessoa. Alguém que é capaz de pedir um mês de férias ao patrão para poder estar concentrado em destilar ódio nas redes sociais dos humoristas que singraram. Guardião do humor. Há um rumor segundo o qual ele guardou num cofre a verdadeira definição de comédia. Porta-voz da ideia de que não há comédia em Portugal. Em dias mais inspirados, brinda-nos com piadas de merda que, segundo o seu critério, são geniais. Hitler, o qual foi um pintor frustrado, não lhe chega aos calcanhares no que respeita à cólera que borbulha nas tripas. Em havendo hipótese, destruía o sistema solar sem pensar duas vezes.

Agelasta
Nunca foi visto a rir. Não acha graça a nada, excepto em ver um humorista a ser linchado nas redes sociais.
Para ele, o humor devia ser abolido, a pior invenção da humanidade. Quem se ri é, no mínimo, mentecapto. Para este ser sapiente, Cervantes é apenas um coxo, Sterne um fanfarrão, Beckett, absurdo, Pirandello, um desnorteado. Faz questão, qual bot, de comentar que não acha graça a cada piada que os comediantes lançam.
Há ainda a casta mais intrépida — leia-se patética — de agelastas que não se inibe de dizer: “é sempre a mesma coisa, não há inovação”. Uma espécie de deus omnisciente entediado. Em parlapié de taberneiro, um chato do caralho.

Herdeiros da Ana Malhoa
Ana Malhoa, para quem eu mando um abraço, é provavelmente uma das figuras mais marcantes do século. Foi a primeira a juntar numa frase três idiomas, a saber: português, espanhol e inglês. Se quiserem, uma espécie de Nabokov, mas com uma peida magistral.
Presentemente, poetas e pessoas comuns usam essa estratégia para cativar as turbas, quer estejamos no twitter ou num sarau de poesia. Hoje em dia é praticamente impossível andar no twitter e ver uma frase com três linhas sem meia dúzia de termos em estrangeiro. Faltará pouco para começar a haver represálias para os portugueses que decidem escrever apenas um português.

Relações públicas de corpos desnudos
Para começar, há duas facções. Aqueles que se escondem atrás de corpos alheios, e os que funcionam como promotores de corpos alheios.
Os primeiros são uma espécie de curadores de nalgas e mamaçal, os segundos, não menos importantes, comentam em termos excepcionalmente elogiosos, com vista a pingar alguma pachachinha. Não há provas que este comportamento se traduza em mais cona ao final do mês.

Feminista postiço
Por norma, um machista 2.0 adaptado aos tempos modernos. Em teoria, consegue ser mais feminista que a mais radical das feministas, na prática, acabará por disseminar dick pics não consentidas pelos seus contactos assim que houver a mínima oportunidade. Uma forma sofisticada de sacar cona. Até hoje não se sabe se este modus operandi se traduz em resultados. Seja como for, as feministas parecem sentir-se propensas a desculpar um machista 2.0. A prova de que ninguém se importa realmente com a verdade; o que queremos, como escreveu o outro, é uma mentira que nos favoreça.

Indignado profissional
Consegue irritar-se com tudo, desde o muito pequeno ao muito grande. Consegue encontrar ligações onde criativos e cientistas são incapazes. É hábil em detectar uma constelação de problemas nas migalhas que povoam a roupa de outra pessoa. Uma máquina de gerar problemas onde não existem. Um escapista da nova geração. É incapaz de lidar com os seus próprios fantasmas, contudo tem soluções perfeitas para todos os problemas do mundo.

Paladino do óbvio
Estes tempos macacos do politicamente correcto trouxeram-nos uma figura inesperada: o paladino do óbvio. Como tem medo de ofender os demais, fica-se pelo óbvio. Para homenagear Nelson Rodrigues, são legatários do óbvio ululante. Dos fenómenos mais degradantes deste século é assistir a um debate onde só se trocam obviedades. Ao que parece, a profecia sobre a morte do pensamento não andava muito longe da verdade.

Refugo do Instagram
Gajas boas e gajos bons, mas não suficientemente bons para conseguirem singrar na rede social da fantasia. Exibem nalguedo e mamas com uma frequência assinalável, para gáudio dos famintos.

12 personagens do twitter, Roberto Gamito

 


Roberto Gamito

17.05.21

Mais um episódio do podcast tertúlia de mentirosos, desta feita com Dário Guerreiro aka Môce dum Cabréste.

Dário Guerreiro Tertúlia de mentirosos

 

Deambulámos por uma enormidade de temas, a saber: pernas roliças, viajar para sítios confortáveis, Dário Guerreiro numa selva pejada de canibais, Segundo Podcast, o medo do silêncio, a dinâmica da aprovação, a relação com o ‘hate das redes’, problemas de interpretação, o zapping nas redes, análise à expressão “não consigo estar parado sem fazer nada”, impingir séries aos outros, Taskmaster, O que é isto de fazer um podcast, stand-up comedy em tempos de pandemia. 

Podem ouvir aqui ou em qualquer outra plataforma de podcast:

 


Roberto Gamito

12.03.21

A fazer fé nas linhas de Swift, pai do humor negro, autor de As Viagens de Gulliver, a sabedoria é uma galinha cujo cacarejo devemos valorizar e ter em consideração porque é acompanhado por um ovo. Não seria inútil analisar esta frase inteligentemente, porém, como o autor destas sílabas não se sente confiante ao abordar as coisas pela via da razão, vamos ater-nos, caros adeptos da escaramuça virtual, acólitos do fuzué das redes sociais, a uma abordagem mais humilde, mais em conta para uma criatura dotada de cérebro assustadiço, pois aí, na estupidez, sinto-me a jogar em casa. Quanto a mim, o ovo é fruto da repetição; tal impede-a de ser o que é, é o rasgo em direcção ao desconhecido. Esticando mais a corda da divagação, é o ovo que interrompe o Eterno Retorno doméstico. E aqui entra o ofício de paciência. Por vezes, e mais do que aquelas que conseguimos enumerar, na nossa vidinha monótona somos confrontados com o cacarejo, o eco, se preferirem, e isso causa-nos comichão na alma e brotoeja no cérebro; não obstante as nossas crenças, só queremos que tudo acabe o mais depressa possível. Todavia, se formos razoavelmente pacientes, a espera pode revelar-se frutífera. Abandonada a minha vetusta teoria de que a repetição é um tributo a um papagaio ancestral, o eco é, bem vistas as coisas, uma galinha invisível que, no seu dialecto repetitivo, anuncia ao mundo que vai pôr o ovo. Sem paciência, podemos cometer o equívoco de achar que há apenas o cacarejo. É crucial esperar o aparecimento do ovo, a semente da novidade, a qual está carregada de colesterol. No entanto, para que ninguém pense, nem nós nem o mundo, (e eu incluo-me no grupo pois não me tenho em grande conta) que a paciência é um ofício utópico, inalcancável às criaturas deste século, as quais foram hipnotizadas pela velocidade galopante, fui persuadido por uma lebre, uma vez que o pássaro incumbido de passar segredos e confortar-me nos momentos menos bons estava de folga, a trabalhar arduamente numa dissertação húmida e seríssima sobre essa figura singular que, sem dizer nada, diz tudo. Segue-se a explicação: o mundo é de tal maneira implacável que até para a cama temos de levar máscaras, liquidando, de uma vez por todas, aquela ideia de Woody Allen de que no sexo as pessoas revelam-se sem máscaras. Sem rodeios e sem aparato humorístico, a galinha e consequente ovo a que me refiro é a Diana Cu de Melancia.

Como não somos labregos nenhuns, apesar de visionarmos a boa da pornografia com a assiduidade de um atleta olímpico de topo, que é como quem diz, todos os dias são dias de treino, compete-nos uma análise cuidada, uma espécie de preliminar, coisa que agrada as fêmeas embora desagrade os impacientes. Enfim, somos cinéfilos premium no tocante ao refustedo, temos poses predilectas, sabemos calibrar o coração carente com o gemido da actriz, somos criteriosos com as cenas, e cada vez mais com a qualidade de imagem do vídeo. No mínimo, exigimos ver pipi e mamas baloiçantes em HD. Em suma, não oferecemos o nosso tesão a qualquer uma. Com a exigência a aumentar de dia para dia, o acto de bater a sarapitola aproxima-se, a passos largos, do amor. Os mais radicais, nos quais me incluo quando quero disparatar e andar à porrada, vão ainda mais longe. Garantem que o homem, espectador da arte da fodanga, é hoje mais exigente na escolha da vídeo, e por consequência da actriz pornográfica que o protagoniza, do que na escolha da mulher dita real que, em correndo bem, realizado o ritual do engate, lançado o engodo que enfeitiçará a mulher no sentido de passar a ideia de que o homem tem a minhoca certa, a qual será uma ajuda monumental, uma espécie de cajado apto a auxiliá-la no sinuoso caminho da felicidade. 

Sejamos sinceros, tal não constitui novidade nenhuma, e desconfio que as mulheres também se identificarão com isto. Provavelmente foi uma doença que apanhámos a ver Netflix, ou melhor dizendo, um vício que apanhámos ao desperdiçar horas a ver thumbnails. Ficámos absurdamente exigentes com a sétima arte. O problema é que estouramos o tempo no superficial e ficamos sem tempo para ir mais fundo. Evidentemente, há segundos sentidos a rondar a frase anterior. 

Na vida real, uma pessoa chega a uma certa idade e está por tudo, senta-se numa esplanada e assim que o primeiro peixe cai no balde damos a pescaria por terminada. A coisa muda de figura quando o intuito é premiar o pénis com arte. Aí temos de ser rigorosos. No mundo real, podemos abster-nos de escrutinar a cona, visto que pretendemos dar minutos de voo ao besugo, a fim de que as asas não enferrujem, agora no mundo da pornografia, no qual nos tornámos peritos, devemos querer o melhor. Aliás, enquanto homem, parceiro de uma cobra zarolha, acrescentando que as cobras são surdas, enfim, somos parceiros de uma deficiente, devo ser capaz, enquanto seu cuidador, de lhe oferecer boas experiências. Concluindo, não devemos escolher a actriz pornográfica que providenciará uma viagem ao nosso esperma de ânimo leve.

Finda a consideração acerca de como eu vejo aquela sétima arte para a qual nunca faltará público, estou disposto a favorecer esta crónica a partir de uma observação saudável, de pendor nutricionista. Vamos analisar a melancia. É um fruto com alto teor em água; segundo a Wikipédia, esse baluarte da credibilidade, cerca de 92%. Esta informação é útil, perguntará o leitor mais impertinente. Caro porém estúpido leitor, só sei responder a esta pergunta com um convicto sim. A água é o pilar da vida. Se formos a ver bem, a melancia é o quê? Água com pevides. A água é o que permite a existência de vida neste planeta. Não seria pouco científico da minha parte se me atrevesse a dizer algo como: o cu da Diana é o que permite a vida no Twitter. Cientificamente falando, é uma afirmação inatacável. Indo mais longe, passar minutos a apreciar o cu de melancia da Diana é uma forma de hidratar-me, aconselhável por todos os nutricionistas dignos desse nome. Aliás, sugiro que, uma vez que a escassez de água é um problema cada vez mais sério, que as pessoas deixem de beber água e passem a levar na carteira uma foto tipo passe do cu da Diana. E assim, imprevistamente, resolvi um dos maiores problemas que o Homem actual enfrenta. Com isto, ultrapassei a Greta na lista de pessoas que se interessam pelo futuro do planeta. Tudo graças à Diana Cu de Melancia. 

Desculpem se vos expandi os horizontes, se dei pasto para que o astrónomo que há em vocês pusesse a hipótese: Será que há cus de melancia em Marte? 

Isto é o máximo que estou autorizado a dizer sobre este tópico tão ingrato que é a vida; não era meu objectivo incitar uma controvérsia na comunidade pensante, mas a verdade é que a vida precisa de água, oxigénio e bons cus para se instalar num planeta. O resto são lérias para entreter meninos.

Até aqui tratamos, como é fácil de ver, de cacarejos. Chegou a altura de abordar o ovo. 

Diana Cu de Melancia informou os incautos, no twitter, sobre as potencialidades do sémen. Primeiro que tudo, alegra-me. Os homens, por muito estabelecidos que estejam nos seus negócios, estão sempre a recrutar relações públicas para falarem bem do esperma. É um orgulho ter a Diana como paladino da gosma láctea. Façamos o que fizermos, os elogios nunca serão suficientes. É a confirmação de que as minhas erecções e consequentes ejaculações foram dedicadas à pessoa certa. Doravante vou bater no palhaço com um sorriso nos lábios. 

De seguida, rematou com a frase “Há por aí voluntários para me hidratar?” A minha primeira reacção foi responder: Querida, patroa do meu tesão, é claro que há; aliás, o que não faltam por aí são candidatos para esse lugar apetecível; não digas isso em voz alta, ainda acabas com o desemprego em Portugal. Todavia, numa segunda leitura, própria de pessoa crescida, vi que estava a ser usado. Está bem que, quando estou a apaziguar o besugo, uso-te como alvo do meu tesão, mas isso não te dá o direito de te aproveitares de mim. Já estás armada em capitalista, contribuindo para a precariedade que grassa no nosso país. Querida, pensei que tínhamos uma relação diferente, mais profunda, mas no fundo só me queres escravizar o caralho, pôr o pénis a laborar de graça. Assim não nos entendemos. Magoas-me seriamente; o pénis tem sentimentos. Hoje vou varejar o pessegueiro com os olhos marejados de lágrimas.

 

Diana Cu de Melancia

 

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