O activista de sofá é, por assim dizer, um santo canonizado pelas redes sociais. A sua maior obra é uma compilação de tweets num tom estúpido-bélico em torno de um trend qualquer que bateu forte em 2019, graças ao qual é hoje figura de proa na arena da sarrafusca verbal. Onde o comum dos mortais vê uma indignação, o activista de sofá vê uma vaca de tetas avantajadas a precisar de ser ordenhada.
Se lhe pedem ajuda para algo, declara-se, jurando pela alma do filho que não tem, indisponível, alegando falta de tempo por estar, alegadamente, envolvido numa constelação de causas.
Nunca toma a dianteira numa acção. Afadiga-se com paleio importado, coisas que leu de viés com olhos remelentos e hoje, sem resquício de vergonha, assume-se como uma sumidade em mil e um assuntos. O Leonardo da Vinci das causas. Sou um Homem, nada do que é humano me é estranho, diria, se conhecesse Terêncio, escravo tornado comediante.
Amigalhaço da verdade, segundo o próprio. Embora compincha da paz, resvala sempre para o lado negro da força. Sempre que pode, deseja a morte a um humorista por este, veja-se bem a ousadia do bobo, ter escrito uma piada.
Citando Terêncio mais uma vez, a verdade gera o ódio.
À falta de melhor designação, contentemo-nos com esta: são os alunos mais prolixos da escola do ressentimento.
Se fazem um boa acção, amiúde por descuido, proclamam a façanha a alto e bom som. Habitualmente, pronunciam a palavra empatia dez mil vezes por dia, qual mantra.
Narcisos competentes, fanáticos do umbigocentrismo; dos outros não fazem nem ideia. Paladinos da literalidade; para eles, a metáfora não passa de um mito, a ironia, um empecilho, a comédia, um alvo a abater. Repudiam generalizações, a menos que lhes favoreçam as narrativas. Lêem os melhores autores, mas só quando estes batem a caçoleta, no resto dos dias devoram memes requentados e não reconhecem escritores, ensaístas e poetas. A sua ração literária é à base de legendas saloias que acompanham as mamalhudas no Instagram. São meninos para transformar qualquer diálogo numa província inabitável. Nas suas discursatas, fazem das vítimas gato-sapato se estas têm a intrepidez de os contradizer. No twitter, atiram comentários para o ar num tom dramático e vão colhendo fiéis para as suas fileiras. Dura pouco, dado que para o narciso o outro é apenas um entrave para a ego insultado.
Os desnorteados tiram notas para, chegada a altura, enlouquecerem como deve ser.
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