Roberto Gamito
03.11.21
Em tempos idos, fui crítico das camisas aos quadrados usadas pelos velhotes. Admito a pobreza da minha opinião, não estava a ver o quadro todo. De facto, o velho de camisa aos quadradinhos é uma oportunidade subaproveitada. O velho é um animal que se dá mal com a gravidade, pelo que é comum vê-lo no chão com os ossos partidos a estrebuchar. Das duas, uma: ou ajudamos o velho de modo a que este caia cinquenta metros mais à frente — quanto a mim, trabalhar para o boneco — ou usamo-lo como uma toalha de piquenique. Do ponto de vista ecológico, e a Greta não me deixa mentir, é uma postura irrepreensível — a reutilização do velho.
Certamente já foram acometidos pela vontade de petiscar um panado e um Sumol durante a hora de almoço no meio das ervas. Planear um piquenique tradicional dá muito trabalho, mas o velho de camisa aos quadrados oferece-nos uma solução expedita.
Não é de admirar que o velho se sinta ofendido numa primeira aproximação; de facto, poucas pessoas há com vontade de servirem de banco e de mesa — e é por isso que o mundo está como está. Porém, com um pouco de negociação, e após uma torrente de insultos, o velhote entenderá os benefícios desta nova abordagem à sua farpela. O velho é um bicho exageradamente social, não lhe podemos negar a cavaqueira, estamos com o rabo e o farnel em cima dele, é o mínimo, somos humanos. Proponho esta simbiose entre o velhote e a nossa vontade de merendar em qualquer sítio.
A mensagem será disseminada como um boato numa aldeia e dentro de poucas semanas todos os velhotes do mundo saberão da boa nova. Ó admirável mundo novo! Um mundo em que homens feitos vagabundeiam na rua e os velhos tombam à sua passagem, ansiando que os usem como toalhas. É chegar a uma sala de espera e ver os idosos a tombarem como pinhas. Que visão deliciosa!
Esta ideia é de tal maneira genial que prevejo que a oferta ultrapassará em muito a procura, pelo que a pessoa comum ficará mais selectiva. Um velho pançudo pode ser óptimo se a intenção for bater uma sorna, mas péssimo para pousar copos. Eis a minha contribuição para um mundo melhor.