Não querendo entrar em detalhes, até porque o detalhe é, por norma, uma coisa minúscula e pouco dada a dilatações e eu sou, vamos supor, o parente mais afastado do pequeno, isto é, um sujeito inequivocamente circular, de raio considerável, e perdi-me: ei-la, a primeira frase do blog. Mais: se a gordura fosse ainda formosura, atribuir-me-iam decerto o cognome O Grande, o grande saqueador de frigoríficos. O que, bem vistas as coisas, ir-me-ia impossibilitar a tarefa de penetrar em detalhes; nem veredas quanto mais detalhes. Sucintamente, um início pouco propício a coisas — um precipício ambíguo e enjorcado a transbordar de palavras. Avancemos para as verdades insofismáveis: são crescidinhos e pressinto — sou uma referência internacional nas premonições — em vocês um invejável caparro para aguentar os meus raciocínios.
Entrei à socapa numa sala desprovida de detalhes, que é como quem diz, uma sala vazia, e empreendi durante largos segundos e outros tantos delgados uma meditação azeda acerca do mundo, do grande até às minudências que lutam dia e noite por um lugar ao sol — ou à sombra — num dos rodapés da História, todavia, tendo bem presente o pensamento filosófico do séc. XXI, o qual postula este tempo como a era das contradições, não fui muito longe na meditação, para não chatear ninguém. Agora que penso no que pensei, admito que foi tempo perdido. Cronos leva sempre a melhor. Correr contra o tempo é pueril, além de cansativo. E a parte chata é que não vamos poder estar presentes na cerimónia de entrega das medalhas, por motivos de força maior. Compromissos profissionais. Se não fosse pelo aparato que designamos erroneamente de vida, e outros particularmente sabujos, nomeadamente os taberneiros, designam por ‘esta merda’, não estaríamos aqui; nem acolá, e desconfio que nem tampouco na casa do caralho. É a vida que nos trouxe cá, o fruto de uma fodanga ocasional, o fruto do acaso, ou fruto do amor, o fruto da inseminação artificial: uma salada de frutas em que muitos passam impecavelmente por bananas. Somos o fruto de uma árvore genealógica outrora regada por um númen, o qual, corre o boato, foi assassinado por um senhor de farto bigode. Basta de elucubrações acerca da temática morte; já demonstrei que sou dotado em matéria de parvoíce, marotamente parvo, apesar de curvado, vergastado pelo destino ou pelo quotidiano, não sei, os gajos revezam-se; a idade já pesa para lá de muito, e tudo isto me confere uma postura ecológica irrepreensível, basta para isso que me pinte de verde.
Fomos sequestrados ao nada por instantes e ninguém deu pela nossa falta. Deus morreu, Freud morreu, o Woody Allen não se está a sentir muito bem e eu para aqui a escrever um blog em vez de estar a ganhar dinheiro. Opções.
![photo-1454678904372-2ca94103eca4.jpeg photo-1454678904372-2ca94103eca4.jpeg]()